Brasil Novo Notícias: Delegacia da Mulher tem quase 3 mil ocorrências

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Delegacia da Mulher tem quase 3 mil ocorrências

Fazer aulas de defesa pessoal, ter carro blindado e segurança particular, assim como adotar um comportamento discreto em determinados ambientes são atitudes que passaram a ser incorporadas no dia a dia das mulheres que procuram se proteger da violência.

De acordo com um levantamento divulgado no início de junho deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um terço das mulheres no mundo já foi vítima de algum tipo de violência física. O estudo recente também apontou que aproximadamente 35% das mulheres com mais de 15 anos já sofreram violência física ou sexual.

No Brasil, os números são alarmantes. De acordo com o Mapa da Violência 2012, feito pelo Instituto Sangari, seis em cada dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica.

O Pará ocupa o 4º lugar no ranking nacional de violência contra a mulher, com taxa de 6,1 assassinatos para cada 100 mil mulheres, segundo o Mapa da Violência 2012. De acordo com a delegada Alessandra Jorge, da Delegacia da Mulher, os casos de estupro e de violência doméstica são os que mais vitimam as paraenses. De janeiro até a primeira quinzena de junho deste ano, a Delegacia da Mulher do Pará registrou 2.986 ocorrências. Ameaça e lesão corporal foram os tipos de violência mais incidentes, correspondendo a mais de 50% dos registros.

Para a delegada, as denúncias são um fator positivo e ajudam a proteger as mulheres que sofrem no ambiente doméstico. \"Mesmo quando há um aumento no número de casos registrados, vemos isso pelo lado bom. Para nós, significa que mais mulheres estão denunciando e podem ser ajudadas. No Nordeste, por exemplo, os registros são pequenos, mas a violência em casa é bem maior. A questão é que lá elas não falam e sofrem caladas\", comenta Alessandra Jorge.

Crimes aos quais as mulheres são mais vulneráveis

- Estupro

- Violência doméstica:

- Ameaças;

- Lesão corporal;

- Perturbação à tranquilidade;

- Injúria;

- Vias de fato (empurrões, puxões de cabelo).

Abandono de casos torna difícil a punição dos agressores

A lei Maria da Penha, criada em 2006, é uma forma de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica. No Pará, há, em média, 600 registros por mês, feitos diretamente nas delegacias, de casos que se enquadram na lei. Na Delegacia Virtual, são feitos aproximadamente cem registros mensais.

Além de punir o agressor, a lei Maria da Penha também disponibiliza medidas protetivas às vítimas e garante a elas apoio psicológico, por exemplo. A mulher agredida tem à disposição uma rede de proteção para ajudá-la no combate da violência, que pode ser psicológica, moral, patrimonial e sexual.

\"O grande problema é que muitas mulheres não dão continuidade ao inquérito, o que prejudica o procedimento como um todo. Elas precisam entender que não basta fazer a denúncia. É necessário voltar à delegacia para prestar depoimento, fazer perícia e apresentar testemunhas. Se isso não é feito, o processo para\", explica Alessandra Jorge.

Para ela, esse é o principal fator que dificulta a punição do agressor e faz com que a mulher seja novamente vítima da violência. \"Já que ela não retorna à delegacia, não temos como iniciar um processo contra o acusado sem os outros indícios\", comenta a delegada.

Ambiente de trabalho também oferece riscos à segurança

Assim como o ambiente familiar pode ser um cenário de violência, algumas mulheres também sofrem com a insegurança no próprio ambiente de trabalho. Em uma pesquisa realizada em 2007 pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), 24% das brasileiras entrevistadas disseram sofrer com o desrespeito no trabalho.

Cada profissão tem os seus riscos, mas, para muitas mulheres, manter a tranquilidade é a melhor forma de se proteger e diminuir a vulnerabilidade. A advogada criminalista Paola Sales afirma que aparentar medo constantemente é um dos principais deslizes cometidos por muitas mulheres. \"Algumas vezes aparentar estar com medo pode nos tornar mais vulneráveis\", diz ela.

A advogada, que costuma visitar delegacias e presídios, destaca que seriedade e discrição são as principais formas de se proteger, e foram aprendidas no dia a dia, a partir de relatos de outras mulheres que sofreram algum tipo de agressão no trabalho. \"Procuro ter sempre um perfil mais sério e ponderar o meu relacionamento com clientes e colegas de trabalho\", diz Paola Sales.

Ela afirma ainda que autoestima e boa conduta são as maiores aliadas da segurança e ajudam a evitar outro problema enfrentado pelas mulheres no ambiente de trabalho: o preconceito. \"No trabalho, prometo só aquilo que posso cumprir. Já ouvi casos nos quais advogadas foram agredidas e ameaçadas porque não tiveram o cuidado na relação com os seus clientes. Esses casos de violência acontecem, mas acho que o que mais sofremos hoje ainda é o preconceito\", ressaltou a jovem.

Medo e até falta de tempo são entraves

Alessandra Jorge explica que há uma série de fatores que faz com que os casos não passem de estatísticas, já que as mulheres não dão continuidade aos processos. A dependência emocional e financeira, o medo de expor a família e até a falta de tempo para ir novamente à delegacia contribuem para isso. \"A mulher, muitas vezes, acaba deixando a sua própria proteção e segurança de lado por essas questões complexas. Outras vezes, elas dizem que não querem os parceiros presos, e que só fizeram a ocorrência para amedrontá-los\", ressalta a delegada.

A denúncia ainda é a melhor forma de proteção nos casos de violência doméstica, que deixam marcas que vão além das físicas. Uma pesquisa realizada em 2007 pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) revelou que mais da metade das mulheres, em todos os casos de violência, não pede ajuda. A ajuda só é solicitada quando agressões consideradas mais graves ocorrem, como ameaças com armas de fogo, espancamento, cortes ou fraturas.

Advogada escolhe o boxe como ferramenta de defesa pessoal

Para se defender de alguns perigos das ruas, a advogada Keila Fascio, de 37 anos, fez do boxe um aliado. Desde o ano passado ela faz aulas de luta como uma forma de defesa pessoal. Hoje, ver um suspeito passando pela mesma calçada já não gera tanto medo. \"Procurei as aulas primeiro porque precisava dessa noção de defesa pessoal para um concurso que ia fazer. Mas depois disso, vi o quanto é importante e me sinto mais segura\", afirma.

Se antes, ao ver um suspeito, Keila saía correndo, agora ela é capaz de analisar a situação com mais calma e procurar uma forma de se defender, desde que o suposto agressor não esteja armado. \"Claro que se for um assalto à mão armada, eu não vou reagir. Mas se vejo que é uma pessoa que pode me assediar ou pegar no meu corpo, já penso em atacar para me defender\", diz.

Os exercícios, além de colaborar para a queima de calorias, ajudam as mulheres a melhorar a atenção e a se defender de uma agressão, por exemplo. A ideia não é fazer com que elas saiam da academia aplicando golpes, mas que saibam como escapar de determinadas situações e desenvolver agilidade para fazer a própria defesa.

Paraenses buscam blindagem de carro - Hoje mais independentes, as mulheres circulam por diversos lugares, muitas vezes sozinhas. Com rotina atribulada entre casa e trabalho, cresce a presença da mulher no trânsito, por exemplo, assim como o medo de assaltos e sequestros em vias públicas.

Um levantamento feito sobre o comportamento das mulheres em 2012, realizado pela Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), apontou que 42,5% do setor da blindagem automotiva correspondiam a clientes do sexo feminino. O número revelou um aumento em relação aos 35% registrados em 2011.

\"A blindagem é vista como uma garantia de proteção, principalmente quando se para em um sinal vermelho na madrugada ou quando passamos por uma rua com canais aqui em Belém, que são mais perigosas\", diz o gerente comercial de uma empresa de blindagens da capital paraense, Péricles Brandão.

De acordo com ele, as paraenses correspondem a 30% dos clientes que solicitam um carro blindado, embora muitos homens também procurem o serviço para um veículo que é usado por toda a família. \"A procura feita por mulheres é crescente, assim como o mercado, de uma forma geral. É claro que elas se sentem mais protegidas, mas outros cuidados devem ser levados em consideração. Não adianta a mulher ter um carro blindado se vai à balada e estaciona em um local mais afastado. Dentro do carro, a segurança é garantida, mas, fora, é preciso ter atenção\", destaca.

Dez dicas de segurança

Evite sair sozinha durante a madrugada;

Em festas e boates, não deixe o copo exposto para não correr o risco de outras pessoas colocarem alguma coisa na sua bebida;

Evite sair com desconhecidos, principalmente em encontros marcados pela internet;

Procure deixar seu carro estacionado em locais com movimento;

Tenha sempre em mãos telefones de emergência;

Evite andar distraída, usando o aparelho celular ou mexendo na bolsa;

Varie seus horários e busque rotas diferentes para ir ao trabalho ou escola;

Ao chegar ou sair de casa, verifique se não há algum suspeito nas proximidades da sua residência;

Evite andar em ruas escuras;

Esteja com as chaves em mãos para entrar em casa ou no carro, evitando abrir a bolsa no meio da rua.

Fonte: Amazônia

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