Brasil Novo Notícias: Paciente morre após esperar dois meses por leito

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Paciente morre após esperar dois meses por leito

José descobriu que tinha câncer e peregrinou
bastante a procura de um leito
O celular toca. Valéria Sales, 33 anos, atende e escuta do outro lado da linha a notícia que aguardou por mais de dois meses: “Valéria, há um leito disponível para o seu pai, o senhor José Pereira Vienas’’.
As lágrimas escorrem pelo rosto da filha. Ainda com o celular próximo ao ouvido, sobre o caixão do pai, ela se questiona. “Por que que o senhor não esperou mais um pouco?’’. 
José não teve mais tempo para aguardar um leito. Desde 19 de novembro foi diagnosticado com câncer no pulmão e um tumor no úmero esquerdo, osso maior do braço. Transferido do Hospital Metropolitano para o Hospital Galileu, em Ananindeua, aguardava uma vaga para tratamento no Barros Barreto ou no Ophir Loyola.
“Todos os hospitais rejeitaram a gente. Fomos no Hospital Divina Providência, UPA da Cidade Nova, Abelardo Santos, Emergência de Marituba, Hospital Metropolitano. Isso antes do diagnóstico. Estávamos uns quatro meses na luta. No Galileu ele teve a 1ª parada cardíaca. Desde 19 de novembro ficou no leito à espera. Foi aí que começou a minha batalha. Lá no Ophir diziam que não tinha leito. No Barros também’’, conta Valéria.

A princípio ninguém desconfiava que José tivesse câncer. Uma dor forte no braço fez com que a família procurasse ajuda médica. Valéria lembra que para ser atendida, precisou inventar que o pai tinha fraturado o braço. Caso contrário, não havia interesse em atendê-lo.
“Quando dei entrada no Metropolitano tive que mentir dizendo que ele tinha caído, porque se eu dissesse que não tinha nada, eles não atendiam. No Metropolitano descobriram que meu pai tinha uma fratura interna. Foi daí que encaminharam para o Hospital Galileu. Lá fez uma bateria de exames e descobriram que estava com câncer’’.
O tumor no braço de José corroía os ossos. O câncer fez com que os pulmões enchessem de líquido. Ele não resistiu a uma parada cardíaca e veio a óbito às 18h, de segunda-feira, 19 de janeiro.
Familiares e amigos lamentavam a perda durante o velório, na manhã de ontem, na casa da família, no Guajará I, We 69, em Ananindeua. A filha contou que o vice-governador do estado, Helenilson Pontes, esteve no leito de José, recebeu das próprias mãos dela uma carta com a solicitação de ajuda para um leito.
Segundo ela, a autoridade se comprometeu em ajudar. “Sexta-feira o vice-governador esteve no Galileu. Ele foi no nosso leito, viu a situação do nosso pai. Eu entreguei uma carta solicitando um leito no Barros e no Ophir. Ele disse que ia levar e não obtive resposta. O governador soube da situação três dias antes da morte do meu pai’’, lamenta.
A esposa de José, a aposentada Maria Linda Sales, 75 anos, externa o sentimento de indignação. “Quando ele morreu é que foram dar um leito...’’. De pais adotivos, José era o herói de Valéria.
“A mãe estava com nove filhos de outro marido. Ele assumiu todos eles. O sonho dele era ter um filho. Eu era uma criança muito doente e com dois anos ele me tirou do hospital, me mandou pra casa e cuidou de mim. Não me deixou morrer. Eu queria uma resposta do governador: Por que só agora? Eu queria ter feito o mesmo que ele fez por mim’’.
RESPOSTA
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que a Central de Leitos da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) é que cadastra o paciente e verifica a disponibilidade de leitos nos hospitais sejam eles de gestão estadual, municipal, federal, ou privados e filantrópicos credenciados pela Sesma para prestar serviços ao SUS.
De acordo com o Hospital Galileu, a primeira solicitação de leito para esse paciente foi feita no dia 29 de dezembro, com suspeita de neoplasia, e a segunda ,no dia 9 de janeiro, com diagnóstico de doença pulmonar.

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