A Polícia Civil do Estado do Pará detém um dos maiores índices de presença de mulheres em cargos de comando dentre as Polícias no país. Somente na função de delegado de Polícia, o índice chega a 36% do total de efetivo de policiais civis na função. Em Estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o índice de delegadas chega a 28%. Atualmente, o efetivo total de policiais civis no Pará é de 2.799. Destes, 699 são mulheres, o que representa 25% do total de policiais. Os índices ainda podem ser considerados baixos, mas já representam um avanço da presença feminina em uma área, onde reinavam ambientes masculinizados. Dados da Diretoria de Recursos Humanos (DRH), da Polícia Civil do Pará, mostram que 60% dos cargos de diretoria ns instituição policial são ocupados por mulheres. Entre as 12 diretorias, a Corregedoria-Geral e a Delegacia-Geral Adjunta, oito são comandadas por mulheres.
Além das diretorias, a Polícia Civil tem a presença feminina no comando de setores fundamentais para a instituição, como o Núcleo de Inteligência Policial (NIP), que tem na direção a delegada Aline Ferreira; a Assessoria de Planejanento Estratégico, que tem como titular a delegada Surama Cavalcante, e a Divisão de Recursos Materiais, que é coordenada pela escrivã Edna Correia. Um dos exemplos é a própria DRH, que hoje tem na direção a delegada Leomar Maués. Na avaliação dela, a existência cada vez maior de mulheres na instituição policial é um fato positivo. “A mulher agrega uma visão diferente do homem, tem uma percepção diferenciada no tratamento das pessoas”, acredita. Ela salienta que a DRH atualmente é formada, em maioria, por mulheres, inclusive em cargos de chefia, onde prestam um atendimento de qualidade ao servidor da instituição. “Aqui, conseguimos aliar a competência para desempenhar o trabalho e a sensibilidade para perceber o outro como sujeito de direitos, resultando num bom atendimento ao servidor da Polícia Civil”, enfatiza Leomar Maués.
Uma das servidoras, que desempenham cargo de direção na DRH é Keila Lorena Lopes, da Divisão de Desenvolvimento de Valorização de Pessoal. Com quase três anos de trabalho na DRH, onde começou como estagiária de Recursos Humanos, ela acredita que somente com a força de vontade e profissionalismo, a mulher pode vencer os obstáculos no ambiente de trabalho. Ao contar um pouco de sua carreira, Keila Lopes relembra que teve de enfrentar muitos desafios para conquistar objetivos na vida. “Eu fazia faculdade à noite, enquanto estagiava pela manhã na DRH. Como morava distante da faculdade, ficava no trabalho até mais tarde, para poder sair direto para assistir às aulas. Chegava em casa quase à meia-noite”, conta.
Ao ressaltar que a mulher é mais sensível em todas as áreas, ela recita uma frase que tem como marca em sua vida: “Deus não escolhe os capacitados. Capacita os escolhidos”. Ainda, dentro do efetivo policial, a Polícia Civil tem, ao todo, 1.342 pessoas no cargo de investigador de Polícia. Destes, 187 são mulheres. Os escrivães de Polícia são, no total, 519 em todo Estado, dos quais 224 são mulheres.
EVOLUÇÃO NA INFORMÁTICA Com 22 anos de serviço público, na Polícia Civil, Olinda de Nazaré Eleres Neves é a servidora com mais tempo em atividade na Diretoria de Informática da instituição, onde está há 13 anos. Funcionária administrativa concursada, em 1991, já atuou como chefe do Arquivo Central e na Divisão de Correição da Corregedoria da PC, até ser convidada, pela delegada Ivana Praciano, já aposentada, para trabalhar no antigo Ditep. Formada em Engenharia Química com mestrado em Engenharia Mecânica na área de materiais e processos, pela Universidade Federal do Pará, e com curso técnico em informática, ela foi uma das responsáveis pelo desenvolvimento do SISP, sistema eletrônico usado nas Delegacias para registro de boletins de ocorrências policiais, insclusive, tendo participado da comissão de servidores da Polícia Civil que acompanhou, em 2003, a criação do programa na Prodepa (Empresa de Processamento de Dados do Pará). Hoje, o sistema é uma referência para todas as Polícias Civis no Brasil. Para ela, o segredo para ser bem sucedida em uma função, onde antes havia apenas homens, é se dedicar, procurar conhecer e se atualizar das novidades na área de informática.
PRECONCEITO VEM DIMINUINDO A serviços gerais Mere Caldas está há nove anos na Polícia Civil, onde trabalha na área de limpeza. Ela conta sentiu muitas dificuldades, logo no início, para exercer a profissão, por ser mulher, já que desenvolve um trabalho com uso da força física. “Tinha de pagar uma máquina de encerar pisos e, por isso, cheguei até a ouvir de uma pessoa que isso não era serviço de mulher”, conta, ao ressaltar que o trabalho surgiu em sua vida como uma oportunidade de emprego. Ela já trabalhou no antigo prédio do Instituto de Identificação, depois na Delegacia-Geral e atualmente, está no prédio da Divisão de Homicídios. Hoje em dia, Mere sente que os homens já tratam com mais respeito a mulher na atividade braçal. “Faço esse trabalho com amor e sem preconceito”, afirma Mere.