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Foto: Jaime Souzza |
Há 20 anos, Moisés Tack, o "Alemão", herdou dos pais a técnica de mergulhar no rio Xingu para pegar o Acari - espécie bastante valorizada no mercado de peixes ornamentais brasileiro. Graças à pesca, nada faltou para a família nesse tempo. Mas só agora, duas décadas depois, Alemão adquiriu uma das mais importantes lições para quem lida com esse tipo de atividade: a segurança nos mergulhos.
Financiado pela Norte Energia S.A., empresa responsável pela construção e operação da Usina Hidrelétrica Belo Monte, o Curso de Mergulho Profissional Nível I contou com a participação de 20 pescadores da região e três militares do Corpo de Bombeiros de Altamira. Durante três dias, professores e alunos se revezaram em atividades teóricas e práticas que começaram nas piscinas do Xingu Praia Clube e terminaram na água corrente do rio Xingu.
"É numa hora dessas que a gente descobre que sempre existem coisas para aprender. Principalmente nessa área de segurança. Estou muito satisfeito com esse curso. Eu muito dificilmente teria condições de bancar um curso desses pra mim", revelou "Alemão". Atualmente, um curso de mergulho custa entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00, sendo que o mais próximo de Altamira é realizado em Fortaleza (CE).
A renda média de R$ 1.800,00 mensais de quem vive da captura e da venda do Acari na região tende a melhorar. Não porque a quantidade de peixes vai crescer, e sim pelas novas oportunidades que vão surgir. A carteira de "Mergulhador Profissional" entregue ao final do curso também representa mais trabalho para essas pessoas. "Quando precisarem de mergulhador na região já tem a gente aqui, né?!", concluiu o pescador Nonato Gomes, de Vitória do Xingu.
O Curso de Mergulho Profissional está entre os nove cursos que serão realizados para os pescadores da região. A iniciativa faz parte do PBA (Projeto Básico Ambiental) - documento que lista uma série de atividades compensatórias para a região da Transamazônica e do Xingu. O próximo será sobre pilotagem de embarcações e está previsto para começar em meados de abril.
"Trata-se de uma demanda solicitada pelos próprios pescadores, por isso as aulas terão uma intensidade prática muito grande", explica a oceanógrafa e pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Keila Mourão. "Assim como o curso concluído agora, as demais turmas terão a melhoria da segurança como foco estratégico das aulas", conclui.
Adaptação – A prática do mergulho é uma ocupação voltada normalmente para o turismo. Mas na região do Xingu, os instrutores adaptaram essa atividade para a pesca ornamental, trocando os cilindros de ar comprimido por compressores. "Além disso, é impressionante como eles conseguem vencer a correnteza (do Xingu) sem nadadeiras. É uma prova da adaptação ao meio ambiente muito interessante", explica Eduardo Franklin, instrutor e coordenador do curso.
Essas adaptações contam ainda com a instalação de filtros na saída desses compressores para melhorar a qualidade do oxigênio inalado durante os mergulhos. Além disso, os participantes também aprenderam a calcular o tempo exato entre mergulho e retorno à superfície, com paradas descompressivas de segurança, além de noções para aperfeiçoar o nado e uso de roupas as mais adequadas possíveis. Tudo para garantir a integridade física desses mergulhadores.
Pelo menos seis pescadores que participaram do curso já apresentaram, no passado, problemas de saúde por conta da descompressão inadequada, ou seja, quando sobem muito rapidamente à superfície depois de terem passado determinado tempo no fundo do rio. "Colocar sangue pelo nariz é o principal deles. Mas é preciso entender que isso é o início de problemas mais graves, como a 'narcose por nitrogênio' ou mesmo a 'doença descompressiva', que pode levar à paralisia parcial e à morte", explica Eduardo.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Norte Energia S.A
Foto: Jaime Souzza