O R$ 1,134 milhão apreendidos pela Justiça Eleitoral na última terça-feira em Parauapebas (PA) seriam
entregues a Alex Pamplona Ohana, ex-secretário de Saúde do município e
apontado como coordenador da campanha do candidato José das Dores
Couto, conhecido como “Coutinho do PT”. A informação faz parte do
depoimento dado por Adnado Correia Braga ao delegado da Polícia Federal
de Marabá, Antonio José Silva Carvalho, que investiga a suspeita de
uso do dinheiro para compra de votos em Parauapebas. Braga foi
encarregado de levar o dinheiro de Belém até Parauapebas e deu à PF
detalhes sobre a operação.
- O depoimento de Adnaldo nos dá todos os indícios de que o dinheiro
seria usado na campanha eleitoral na cidade. Outro indício era a
presença de Alex no local. Ele saiu do aeroporto tão logo chegou o juiz
eleitoral Líbio Moura, acompanhado por policiais, e chegou a
cumprimentá-lo – afirmou o delegado, acrescentando que, além do juiz,
os vigilantes do aeroporto também confirmaram a presença de Alex no
aeroporto.
Adnaldo Correia Braga é primo de Kerniston Braga, funcionário da
Prefeitura de Parauapebas, que é administrada por Darci José Lermer
(PT). Como está no segundo mandato e não pode ser reeleito, Coutinho,
ex-secretário de Obras do município, recebe seu apoio. A vice na chapa é
Isabel Mesquita, do PMDB, ex- secretária Nacional de Políticas de
Turismo.
Em depoimento à PF, Adnaldo afirmou que seu primo Kerniston viajou a
Belém no domingo e pediu que a ele que o acompanhasse na segunda-feira a
uma agência do Banpará, onde pegaria uma grande soma de dinheiro.
Preocupado com um possível assalto, Kerniston teria pedido a ele que
fizesse a escolta, seguindo seu carro no trajeto. No banco, Kerniston
teria recebido R$ 400 mil sacados em dinheiro vivo pelo dono da Etec
Empresa Técnica, que descontou um cheque da empresa. No mesmo dia,
contou Adnaldo, Kerniston fez a ele um segundo pedido: que se
encarregasse de levar o dinheiro no avião da empresa White Tratores,
pilotado por Lucas Silva Chaparro.
Em depoimento ao delegado Carvalho, Adnaldo afirmou ter sido
surpreendido na terça-feira pelo primo. Na hora de embarcar, no lugar
de receber apenas uma mochila de dinheiro, com os R$ 400 mil sacados no
dia anterior, Kerniston lhe entregou mais duas mochilas recheadas com
notas de R$ 100, R$ 50 e R$ 20. A mulher de Adnaldo foi junto porque
nunca havia viajado de avião.
- Antes de o avião pousar em Parauapebas, Kerniston mandou uma mensagem
para o celular de Adnaldo, orientando para que o avião pousasse em
Marabá, não no município, mas o primo não viu – disse o delegado, que
acredita que a mensagem possa ter sido enviada após informações sobre a
ação da Justiça Eleitoral, que havia sido avisada de que chegaria
dinheiro vivo no aeroporto para ser usado na compra de votos no
município e convocou as polícias Militar e Civil para a operação.
Para Carvalho, o fato de o juiz Líbio Moura não ter esperado que o
dinheiro fosse entregue ao destinatário, qualquer que fosse ele,
complica as investigações.
- Tenho indícios e o depoimento, mas se o dinheiro tivesse sido
apreendido já com o destinatário seria mais fácil estabelecer o crime
eleitoral. O fato de o dinheiro estar sendo transportado não é, por si
só, um crime – explicou.
Em depoimento informal, um irmão de Paulo Guilherme Cavallero Macedo,
dono da Etec, afirmou à Polícia Federal que os R$ 400 mil em espécie
foi sacado a pedido de João Vicente Ferreira do Vale, dono da White
Tratores, conhecido como Branco.
- O Branco alegou que, se o dinheiro fosse depositado na conta, seria
bloqueado por meio de penhora eletrônica, e que precisava pagar
funcionários. Perguntei a ele se a Etec costumava pagar fornecedores em
dinheiro, e a resposta foi que esta teria sido a primeira vez. O dono
da Etec disse que não tinha aliados políticos em Parauapebas, mas sabia
que Branco tinha “vários rolos” – disse o delegado, que ouvirá o dono
da Etec, o irmão dele e o proprietário da White Tratores na próxima
terça-feira.
O advogado da campanha do PT em Parauapebas, Wellington Valente, afirmou
que o fato de Alex Pamplona Ohana estar no aeroporto não o vincula ao
dinheiro apreendido ou a qualquer irregularidade.
- Ele estava no aeroporto como qualquer cidadão poderia estar, se
despedindo de um amigo. Isso não o relaciona com o dinheiro. Ele
cumprimentou o juiz porque o conhece – disse Valente.
O advogado afirmou que não tem conhecimento do conteúdo dos depoimentos
prestados à Polícia Federal, mas que a empresa White Tratores informou
que tem nota fiscal do dinheiro e contrato de prestação de serviços
para comprovar a operação.
- Não tem qualquer vínculo com a campanha – afirmou Valente.
O delegado da PF disse que não recebeu ainda nenhuma nota fiscal
correspondente à negociação entre as duas empresas e que vai solicitar a
folha de pagamentos da White Tratores, para saber qual a quantia seria
usada para pagar funcionários. Carvalho suspeita que o valor seja
muito inferior à da quantia transportada.
- Quero ouvir o Kerniston. Quero saber de onde veio o dinheiro das outras duas mochilas – disse o delegado.
Carvalho explicou que caso exista crime, será de formação de quadrilha
ou lavagem de dinheiro, uma vez que a corrupção eleitoral não chegou a
ser concretizada, pois o juiz eleitoral apreendeu a quantia antes que
ela mudasse de mãos.
As duas empresas envolvidas na operação têm contratos com a Prefeitura
de Parauapebas. A White Tratores, que assumiu ser dona do dinheiro,
possui pelo menos dois, no valor de R$ 2,6 milhões, por serviços de
locação de caminhões e picapes. A Etec é dona de um contrato bem maior,
no valor de R$ 36.228.352,08, destinado a obras de terraplenagem,
drenagem e pavimentação asfáltica na zona urbana e rural do município,
assinado em setembro de 2011 e com término previsto para setembro deste
ano. Em maio passado, foi assinado um aditivo de R$ 8.930.011,05.
Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral, a Etec doou R$ 300
mil à campanha de Darci José Lermer em 2008. O proprietário da White
Tratores doou R$ 3 mil para a campanha do vereador Raimundo de
Vasconcelos Silva, então candidato pelo PT.
O juiz Líbio Moura não quis confirmar o encontro com Alex Pamplona Ohana no aeroporto.
- Entendo que a investigação é sigilosa. Não se pode julgar ninguém antecipadamente, às vésperas da eleição – afirmou Moura.
Fonte: O Globo