Os dados são provenientes
da segunda edição do Seeg Municípios (Sistema de Estimativas de Emissões e
Remoções de Gases de Efeito Estufa), um projeto do Observatório do Clima,
lançada na manhã desta segunda-feira (13).
Altamira tomou o lugar de
São Félix do Xingu, também no Pará, líder de emissões de 2018 e que, no ano
seguinte, ficou em segundo no ranking nacional de gases-estufa. São Paulo ocupa
só a quinta colocação, e o Rio de Janeiro, a oitava.
Segundo o estudo, os 35,2
MtCO2e (milhões de toneladas de CO2 equivalente, uma medida que unifica os
gases-estufa) emitidos por Altamira em 2019 a colocariam na posição 108 no
ranking de países que mais emitem, deixando-a à frente da Noruega e da Suécia,
por exemplo, de acordo com dados do WRI (World Resources Institute).
No top 10 de emissores no
país, somente São Paulo e Rio de Janeiro estão fora da Amazônia. E a explicação
para isso é a principal fonte de emissões no Brasil: mudança de uso do solo,
que, nesse caso, pode ser traduzido como desmatamento.
Portanto, não chega a ser
coincidência que, em 2019, Altamira tenha sido a cidade com o maior nível de
desmatamento na Amazônia. Em segundo lugar no ranking de desmate aparece São
Félix do Xingu, que, além da derrubada de mata, possui o maior rebanho bovino
do Brasil, com mais de 2,3 milhões de cabeças de gado o
processo de digestão do boi emite gases-estufa; dessa forma, locais com grandes
rebanhos costumam ter grandes emissões.
Altamira também possui um
rebanho expressivo, sendo o quarto maior do Pará e o 12º maior do país (em 2019
e nos dados mais recentes), segundo o IBGE.
CIDADES COM MAIOR EMISSÃO
DE GASES-ESTUFA NO PAÍS
1. Altamira (PA)
2. São Félix do Xingu (PA)
3. Porto Velho (RO)
4. Lábrea (AM)
5. São Paulo (SP)
6. Pacajá (PA)
7. Novo Progresso (PA)
8. Rio de Janeiro (RJ)
9. Colniza (MT)
10. Apuí (AM)
O desmatamento no Brasil tem uma motivação econômica. Na Amazônia, ele está usualmente associado a atividades agropecuárias, com áreas recentemente derrubadas, costumeiramente, sendo ocupadas por rebanhos. Levando isso em conta e vendo através da plataforma MapBiomas, também do Observatório do Clima no que as áreas desmatadas foram transformadas, aumenta ainda mais a pegada climática do agronegócio nacional, com contribuição massiva nas emissões brasileiras e, consequentemente, dos municípios líderes de gases-estufa.
Tirando o desmatamento
(mudança do uso do solo) da equação, São Paulo se torna o líder de emissões,
seguido pelo Rio de Janeiro, puxados pelo setor de energia (o que, nesses
casos, refere-se basicamente a queima de combustíveis no transporte) e de
resíduos.
EMISSÕES PER CAPITA
Na Amazônia, graças ao
desmatamento, muitos municípios têm emissões per capita (ou seja, o total de
emissões divididas por cada pessoa que ali habita) superiores às de países
expressivos no mercado de combustíveis fósseis cuja queima é o fator
central para as mudanças climáticas.
União do Sul, no Mato
Grosso, e seus 3.760 habitantes lideram o ranking de emissões per capita, com
1.831 toneladas de CO2e para cada pessoa da cidade. No município, as emissões
são predominantemente relativas a desmate e agronegócio. Outros lugares
conhecidos pela derrubada de Amazônia também despontam com níveis altos de
emissões per capita, como Jacareacanga (690 toneladas de CO2e) e Novo Progresso
(580 toneladas de CO2e).
"Chama muito a atenção
as emissões per capita. Quinhentas, 600, 800 toneladas por habitante é um
negócio inconcebível. Mas essenciamente por conta do desmatamento", afirma
Tasso Azevedo, coordenador-geral do Seeg. "É uma super ameaça, mas é uma
tremenda de uma oportunidade. Porque se você acaba com o desmatamento, você
reduz dras ticamente as emissões", afirma Azevedo.
Para se ter uma ideia, no
mundo, o país com maior emissão per capita é o Qatar, palco da Copa do Mundo
2022, com quase 41 toneladas de CO2e por habitante, segundo o WRI.
Em São Paulo, com sua
grande população, a emissão per capita em 2019 foi de 1 tonelada por habitante,
de acordo com os dados do Seeg Municípios.
DESMATAMENTO
Você pode estar se
perguntando: por que o desmatamento gera emissões de gases-estufa?
Em resumo, além das
árvores nas florestas retirarem constantemente carbono do ar para o processo de
fotossíntese, elas armazenam carbono em si.
Porém, quando as matas são
derrubadas e, consequentemente, mortas, esse carbono acumulado na floresta
acaba voltando à atmosfera.
Não é só o corte total de
uma região que pode acelerar a crise climática. Processos de degradação da
floresta, com aberturas na mata para retirada de árvores e queimadas, também
emitem CO2 e podem fazer com que uma área acabe emitindo mais carbono do que
captura.
E aí entram dois
problemas. O primeiro é que os países não consideram em seus "orçamentos
climáticos" as emissões provenientes de degradação. O segundo é que o
nível de degradação na Amazônia brasileira já é consideravelmente maior do que
o de desmatamento.
Atualmente, já há regiões
da Amazônia emitindo mais carbono do que o retirando da atmosfera, como mostrou
uma pesquisa recente publicada na Nature.
RIQUEZA
Os pesquisadores do Seeg
tentaram ver ainda se, de alguma forma, as cidades com maiores níveis de
emissões provenientes da agropecuária (considerada aqui também a pegada de
desmatamento) "traduziam" esses gases-estufa em PIB. E a resposta é
que não, as emissões não geraram riqueza para a população.
"Encontramos uma
correlação invertida", afirma o coordenador do Seeg. "Os municípios
que mais emitem na agropecuária não são os municípios que têm maior PIB. Na
verdade, eles estão longe disso. Isso se dá porque a grande emissão da pecuária
ocorre quando você tem animais em manejo de baixa qualidade, com degradação ou
pastos degradados."
Por outro lado, as menores
emissões ligadas ao agronegócio se concentram em locais com uso mais intensivo
do solo, com mais animais por hectare, solos não degradados e municípios com
predomínio de agricultura.
"Em geral, onde você
tem os maiores PIBs da agropecuária, você tem emissões menores", afirma
Azevedo.
Fonte:
FOLHAPRESS
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