A teoria mais aceita e de que os peixes não produzem eles mesmos a toxinas, as acumulam no seu corpo compostos produzidos por outros organismos
Foto: Divulgação |
A suspeita inicial é de que haveria relação entre a
doença e o consumo de determinados tipos de peixes. Partindo disso, a pesquisa
buscou descrever as características clínicas dos casos, identificar fatores
associados, estimar a taxa de ataque associada ao consumo de um peixe
relacionado ao surgimento de casos e investigar a presença de biotoxinas e
metais em algumas espécies.
RESULTADO
Os resultados do trabalho, coordenado por
Cristiane Cardoso, do Cievs Salvador, e pelo pesquisador da Fiocruz Bahia,
Guilherme Ribeiro, foram publicados no periódico Lancet Regional Health –
Americas. No artigo, os pesquisadores relatam que a teoria mais aceita é que os
peixes e crustáceos não produzem eles mesmos as toxinas, mas acumulam no seu
corpo compostos produzidos por outros organismos, como microalgas, através da
cadeia alimentar.
Durante o estudo, seis amostras de peixes passaram
por análises laboratoriais: duas eram sobras de uma refeição relacionadas a
dois casos da doença, ambos com evidências laboratoriais de rabdomiólise;
outras duas foram obtidas de casos isolados com altos níveis de CPK; e as duas
últimas eram amostras frescas obtidas em uma peixaria local, onde alguns
pacientes haviam comprado peixes. Com o apoio dos colaboradores da Universidade
do Paraná e do Instituto Federal de Santa Catarina, a pesquisa detectou
compostos do tipo palitoxina nas amostras de espécie de água salgada conhecida como
“olho de boi”, que pode ser a provável fonte de contaminação. Não foi detectada
a presença de metais como arsênio, cádmio e chumbo nos peixes.
Os pesquisadores também realizaram análise de
sangue, fezes e urina dos participantes e coletaram informações, como dados
demográficos, manifestações clínicas e exposições epidemiológicas; se tiveram
contato com animais e água da chuva; se fizeram refeição em restaurantes; uso
de drogas ilícitas e medicamentos; exercício físico; viagem na semana anterior
ao início dos sintomas; e vacinação. Ainda foram analisados indivíduos que
comeram o mesmo peixe suspeito e não apresentaram sintomas.
No período entre 2016 e 2017, foram investigados 65
casos. Destes, 66% tinham níveis elevados de CPK, 88% foram hospitalizados, 26%
necessitaram de cuidados intensivos e 7% de diálise. A ingestão de peixes
marinhos 24 horas antes do início da doença foi relatada por 74% dos casos com
CPK elevada e por 41% daqueles sem medição de CPK. A taxa de ataque para
indivíduos que comeram peixes relacionados ao surto, indicador de incidência da
doença, foi de 55%. Os tipos de peixes mais consumidos pelos casos foram “olho
de boi” e “badejo”.
Após o surto ocorrido entre 2016 e 2017, a
Secretaria Municipal de Saúde de Salvador identificou 12 casos suspeitos entre
2017-2019 e um novo surto durante a pandemia da Covid-19 (2020-2021). Durante o
último surto, 16 pacientes com rabdomiólise confirmados por laboratório foram
identificados. Desses, cinco necessitaram de cuidados intensivos e um foi a óbito.
No trabalho, os pesquisadores ressaltam que, devido
aos recentes surtos da ‘doença da urina preta’, especialmente no Brasil, é
necessário fortalecer a vigilância epidemiológica e o treinamento médico para
detecção de casos suspeitos, que devem ser comunicados às autoridades
sanitárias para investigação.
Fonte: O Liberal
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