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© Reuters/C.G. Rawlins Venezuelanos enchem galões de água numa fonte ao lado do rio Guaire, em Caracas |
O pior apagão da história da Venezuela, que
entrou em seu quinto dia nesta terça-feira (12/03), agravou a escassez de
alimentos e provocou falta de água no país. A falta de energia elétrica, que
chegou a afetar 22 dos 23 estados, além de Caracas, faz com que vários serviços
não possam ser prestados, entre eles o fornecimento de água, que entrou em
colapso.
Numa atitude desesperada, um grupo de pessoas
foi nesta segunda-feira encher galões com água numa fonte que brota da parede
de asfalto do rio Guaire. O rio, que é canalizado, corre ao lado da principal
rodovia de Caracas e nele é despejado esgoto.
Entre os que foram coletar água no local
estava a vendedora Lilibeth Tejedor, de 28 anos e mãe de uma criança de 2 anos.
Em meio a dezenas de outras pessoas, Tejedor tentava encher um galão de 15
litros com a água da vertente, que corria para o rio.
Ao contrário da fétida água do rio Guaire, o
líquido que saía da fonte ao menos era claro. As pessoas no local disseram que
a água fora liberada de um reservatório por autoridades locais e que, por ter
passado por canos sujos, podia apenas ser usada para dar a descarga e lavar o
assoalho.
"Eu nunca havia visto algo parecido. É
horrível", disse Tejedor a repórteres da agência de notícias Reuters que
foram ao local. Ela se preparava para transportar o seu galão cheio de água num
pequeno carrinho de mão.
Crianças e adolescentes acompanharam os pais
para ajudar a carregar água. Quando duas crianças começaram a brincar no
poluído rio Guaire, uma mulher as alertou: "Essa água é suja! Não comecem
a brincar porque não há remédios."
Muitas pessoas que foram buscar água no local
acabaram afastadas de lá por militares.
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© Reuters/C.G. Rawlins Rio Guaire transporta esgoto por Caracas |
No extremo norte de Caracas, onde a cidade
margeia o parque nacional El Ávila, centenas de pessoas fizeram fila para
coletar água de fontes nas montanhas.
Outros venezuelanos se viram obrigados a pagar
em dólares por garrafas de água ou esperar por caminhões-pipa prometidos pelo
regime de Nicolás Maduro.
Muitos pagamentos precisam ser feitos em
dólares devido à escassez de cédulas no país, afetado pela hiperinflação, e
porque o pagamento com cartão não funciona por causa da falta de luz.
Maduro também anunciou a distribuição de
alimentos e de produtos para hospitais, mas nada ainda foi entregue.
Caracas necessita de 20 mil litros de água por
segundo para a manutenção do serviço de abastecimento, afirmou o engenheiro
José de Viana, que trabalhou no sistema de fornecimento da capital nos anos
1990.
Na semana passada, o fluxo havia caído para 13
mil, e depois do apagão, iniciado na quinta-feira, parou por completo, disse
Viana.
Devido à situação de emergência, o presidente
da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que é reconhecido como presidente interino
por mais de 50 países, incluindo o Brasil, convocou novas manifestações contra
Maduro para esta terça-feira em todo o país.
Ele disse que a situação é de calamidade
pública e decretou, com aval da Assembleia, dominada pela oposição a Maduro,
estado de alarme nacional por 30 dias para pedir ajuda internacional.
O decreto não deverá ter efeito, pois Maduro
tem o apoio das Forças Armadas e controla todas as instituições do país, exceto
a Assembleia Nacional.
AS/afp/efe/rtr/ap