O Ministério
Público Federal encaminhou notícia-crime ao Ministério
Público de São Paulo pedindo investigação por suposto crime de estelionato
cometido pelo pastor Valdemiro
Santiago de Oliveira, da Igreja Mundial do Poder de Deus. Pelas redes sociais, o
líder religioso anunciou sementes de feijão com 'poderes para curar a covid-19'.
Até o momento, não há cura
comprovada para o novo coronavírus.
Sem citar explicitamente
pagamentos, o pastou utilizou o termo 'propósito', no qual o usuário faria um
'propósito' pelo feijão. A Procuradoria afirmou que, apesar do 'disfarce
linguístico', o intuito de Valdomiro era levar fiéis a pagarem valores para
obter as sementes 'mágicas', visto que elas só seriam entregues àqueles que
exibirem comprovante de pagamento.
Os 'propósitos' anunciados
pelo Pastor Valdemiro eram de R$ 100, R$ 500 e R$ 1 mil.
"O uso de influência
religiosa e da mística da religião para obter vantagem pessoal (ou em benefício
da entidade Igreja Mundial do Poder de Deus), mediante artifício (consistente
na indução em erro das vítimas, mediante abuso do poder religioso), sem
resultado (pois não há evidência conhecida de cura da covid-19 por intercessão
de alguma divindade nem por ingestão ou plantação de feijões mágicos) está
claro pelo contexto da gravação e pela finalidade do noticiado de auferir vantagem
indevida", afirmou a Procuradoria.
De acordo com o MPF, se o
pastor 'tivesse o desejo sincero de curar ou imunizar seu rebanho', não
precisaria fazê-lo através de pagamento financeiro, 'o que é próprio de
charlatões e estelionatários'. "Tampouco sequer precisaria de pagamento,
pois, se estivesse genuinamente interessado na prevenção ou na cura da
patologia, o noticiado poderia simplesmente conclamar todos os seus fiéis a
orar e a realizar quaisquer outras práticas religiosas, sem necessidade de contraprestação
pecuniária", descreveu o Ministério Público Federal.
A notícia-crime é assinada
pelo procurador regional da República Wellington Cabral Saraiva. Segundo ele,
'negociar favores espirituais parece incompatível com a afiliação religiosa' a
qual o pastor se identifica.
O procurador destaca que não
se busca interferir em liberdade religiosa e tampouco criminalizar a
contribuição econômica de fiéis para a Igreja, mas sim evitar que 'indivíduos
inescrupulosos ludibriem pessoas vulneráveis'.
"Não se trata de coibir
as pessoas em geral de professar a fé que desejarem e de cultuar as divindades
de sua preferência, na forma de sua escolha. Trata-se de impedir que
determinados indivíduos se valham desse conjunto de crenças para obter vantagem
econômica ilegítima, valendo-se da crendice alheia, mediante sofisticados
esquemas publicitários, psicológicos e tecnológicos", afirmou.
Aliado de Bolsonaro, o pastor
já participou de uma live do presidente no dia 12 de julho do ano passado - no
mesmo dia, o líder religioso havia entregue ofício ao Itamaraty pedindo um
passaporte diplomático. Quase
um mês depois, o governo autorizou o pastor e sua mulher, Franciléia de Castro
Gomes de Oliveira, a ter posse do documento.
COM A PALAVRA, O PASTOR VALDEMIRO
A reportagem busca contato
com o pastor Valdemiro Santiago de Oliveira. O espaço está aberto a
manifestações (paulo.netto@estadao.com)
Fonte: O Estadão
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