Desde o assassinato de Stang, o estado brasileiro se viu
pressionado a dar uma resposta às injustiças socioambientais.
Área de reserva legal desmatada ilegalmente em terras vizinhas ao PDS Virola-Jatobá (Foto:Roberto Porro) |
Ela lutava pela regularização da terra para famílias de
trabalhadores rurais e combatia a violência das invasões ao projeto por
grileiros, madeireiros e fazendeiros. O crime foi punido anos depois,
mesmo assim Bida se encontra em prisão domiciliar desde 2015. Taradão foi preso
em abril de 2020, ele aguardou 14 anos em liberdade. Amair Feijoli, Tato, foi
quem intermediou o acordo com os pistoleiros foi condenado a 18 anos de prisão,
mas em 2010 passou a cumprir a pena em domicilio.
Os pistoleiros, Rayfran das Neves Sales, foi punido há 27
anos só que em 2013 ele passou a cumprir prisão domiciliar, já seu comparsa
Clodoaldo Carlos Batista e o Eduardo tiveram uma pena de 17 anos e cumprem em
regime semi-aberto.
A luta de Dorothy pode ser
antiga, mas os problemas permanecem. Segundo o Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária). Hoje, o assentamento tem capacidade para 270
famílias, porém cerca de 100 a 150 famílias estão assentadas pelo Instituto, os
demais são ocupantes irregulares e muitas esses eles não têm perfil para
possuir terra em região de assentamento. Ainda segundo o órgão, em 2019
as guaritas de vigilância foram retiradas, o que pirou a segurança. “Ainda hoje
há diversas denúncias de extração ilegal de madeira, de invasão da reserva
legal. Já houve ações para reintegração de posse de invasores, mas mesmo assim
eles retornam”, explica o Incra.
Segundo dados do Centro de Documentação da CPT (Comissão
Pastoral da Terra) Dom Tomás Balduino), de 2005 a 2019 foram registrados 23
assassinatos em conflitos no campo no município de Anapu (PA).
Números da 34º edição do Conflitos do Campo 2019, divulgados pela Comissão Pastoral em 2020, revelam que na Amazônia brasileira ocorre mais da metade dos conflitos e 84% dos assassinatos. A região é reconhecida não apenas como a maior reserva de recursos naturais do planeta, mas também como um local em constante disputa política, econômica, ambiental e social.
PDS
Criados a partir de 2002 – em resposta às demandas de
pequenos agricultores, ambientalistas e comunidades tradicionais por terra e desenvolvimento
sustentável -, os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDSs) de Anapu são
considerados uma alternativa sustentável à reforma agrária tradicional e uma
conquista dos movimentos sociais locais, que desde a década de 1970 lutam
contra a invasão de suas terras e o desmatamento provocado por madeireiros e
pecuaristas.
Desde o assassinato de Stang, o estado brasileiro se viu
pressionado a dar uma resposta às injustiças socioambientais ali praticadas e
tem agido pontualmente a fim de atender às demandas dos assentados: o MPF
intensificou suas ações de fiscalização na área e o Ministério do Trabalho já
realizou ações de combate ao trabalho escravo; o INCRA tem apoiado programas da
assistência técnica e construção de moradias para as famílias e há notícias de
que sua procuradoria tem atuado no sentido de combater a exploração ilegal de
madeira dentro das áreas de reserva legal.
Todas estas ações, contudo,
não impedem que fazendeiros, madeireiros e grileiros continuem exercendo seu
poder na área e continuam a exploração ilegal dos recursos naturais que
deveriam ser preservados e direcionados à exploração sustentável. Por esse motivo,
os conflitos na região permanecem acirrados, e muitas famílias continuam com
suas vidas e terras ameaçadas.
Irmã Dorothy
Em uma entrevista à Agência Brasil, Dom Erwin contou um
pouco sobre Dorothy “Lembro-me perfeitamente da visita daquela senhora de vozinha
mansa e sotaque estadunidense bastante acentuado.
Segundo ele, a freira alimentava o sonho de trabalhar
entre os camponeses mais carentes da região. “Ela logo me avisou que queria
trabalhar entre os pobres mais pobres. Brinquei e disse que como cidadã
norte-americana, oriunda do aprazível estado de Ohio, certamente ela não
conhecia a pobreza extrema. Falei logo da Transamazônica-Leste, região
infestada de doenças tropicais onde vive gente que não tem onde cair morta. Ela
nem me deixou terminar de falar e respondeu: 'Então eu quero ir'. Tentei
ponderar: 'Mas a senhora não vai aguentar'. E ela: 'Deixe-me pelo menos fazer
uma experiência'. Pensei que depois de poucas semanas viria pedir-me outra área
ou então estaria já curtindo a primeira malária. Enganei-me redondamente”,
relata dom Erwin.
Com informações Mapa de Conflitos
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