O professor Moaci Alves Carneiro, autor de 22 livros na área de
legislação de ensino, ressaltou que as principais deficiências no ensino
médio brasileiro estão relacionadas a questões como baixo salário dos
professores. Ele participou nesta terça-feira (4) de audiência pública
promovida pela comissão especial que estuda a reformulação do ensino
médio.
O professor observou que os professores de matemática, por exemplo,
estão abandonando as escolas para trabalhar nas financeiras e nos
bancos, que pagam melhor salário.
Autor da obra “O nó do ensino médio”, Carneiro salientou que o professor
é um profissional que exige um nível de formação consistente para poder
conduzir a sala de aula e conviver com uma juventude que é “senhora” do
conjunto de instrumentos que caracteriza a comunicação eletrônica.
“Esse professor ganhando R$ 1.450 não tem condição para isso. Com esse
salário, o professor está ganhando menos do que a média salarial de um
trabalhador brasileiro, que está em torno de R$ 1700, a partir do mês de
setembro último. Então é preciso ver isso”, alertou.
Livros e revistas
O especialista defendeu um salário inicial para o professor que tenha
como parâmetro o salário dos professores do Distrito Federal. Um
professor do DF com graduação tem remuneração inicial de R$ 3.069,08 por
40 horas semanais, incluídos nesse valor o salário-base e as
gratificações. O professor sugeriu ainda um bônus para que o professor
possa comprar livros e revistas científicas.
Outro nó do ensino médio apontado pelo professor é a infraestrutura
precária das escolas públicas. Segundo ele, falta conservação dos
prédios. Além disso, Carneiro disse que os insumos
didáticos-pedagógicos, como livros e revistas, são inadequados.
O professor criticou ainda os currículos uniformes que, em seu
entendimento, impossibilitam a incorporação de disciplina de interesse
do lugar onde o aluno vive.
Distorção idade/série
A distorção idade/série também foi mencionada pelo professor como um nó
do ensino médio. Isso, segundo ele, dificulta o professor trabalhar os
conteúdos das disciplinas. Faixas etárias diferentes, observou o
professor, requerem um esforço muito maior por parte do professor para
poder alcançar as necessidades de aprendizagem dos alunos.
Respondendo ao autor do requerimento para realização da audiência,
deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), que fez comentário sobre a falta de
pessoas qualificadas para preencher as vagas, o professor Moaci
assinalou que é preciso que as disciplinas tenham repercussão na área
laboral do aluno. De acordo com o professor, o ensino médio não está
oferecendo habilidade na área laboral. Ele afirmou não ter sentido
estudar biologia, por exemplo, se o aluno não sabe verificar se a água
de sua casa está poluída.
e-Democracia
Várias perguntas foram feitas por internautas durante o debate por meio
da página e-Democracia. A professora Sandra Betina Neves indagou como
deveria ser a concepção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelo
Ministério da Educação; e ainda questionou como o Enem poderia nortear
as políticas públicas para o ensino médio.
Moaci Carneiro respondeu que a presença do professor nos processos de
avaliação é fundamental. No entanto, ele considera que o Enem padece de
uma ausência lamentável de participação do professor das redes públicas
na sua elaboração, lamentou. “Essa ausência é como um certificado de
incompetência do professor da rede pública, fato com o qual não podemos
concordar”, afirmou.
Políticas públicas
Na opinião do professor Moaci, o melhor formato seria cada estado
organizar o seu sistema de avaliação, que receberia os resultados do
Enem e repassaria para as escolas. Os professores mais experientes então
estabeleceriam um planejamento da escola em cima dos resultados do
Enem.
O professor Moaci Alves Carneiro possui doutorado em Sociologia pela
Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris. Foi Reitor da
Universidade Estadual da Paraíba, Secretário de Estado da Educação e
Diretor de Operações do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação
(FNDE). Como representante do Ministério da Educação (MEC), o professor
integrou grupos de trabalho na elaboração do texto final da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB - Lei 9.394/96).
A comissão especial tem promovido diversas audiências públicas para
ouvir representantes do governo e professores. Esses encontros ajudarão a
elaborar um projeto de lei sobre o ensino médio.
Por: Agência Câmara
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