Milhares de paraenses que são
funcionários de prefeituras vivem a angústia de não conseguir pagar suas
contas e nem colocar alimentos dentro de casa, às vésperas do Natal.
Somente o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) recebeu denúncias de
salários atrasados em 44 municípios, mas acredita que esse número pode
ser bem maior. Na maioria dos casos, os servidores não recebem desde
setembro, ou seja, a situação se agravou em pleno período de campanha
eleitoral e envolve principalmente gestores que estão deixando o
mandato.
Nas últimas semanas, uma série de
protestos de servidores revoltados com o atraso dos salários aconteceu
em diversos municípios paraenses. Em Marituba, semana passada, o
prefeito Bertoldo Couto foi afastado do cargo pela Justiça, que acatou
ação de improbidade administrativa impetrada pelo Ministério Público do
Estado (MPE), justamente pelo atraso nos salários, além da exoneração de
cerca de 1,5 mil servidores de maneira irregular. A Justiça também
decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Bertoldo.
O diretor financeiro da Federação das
Associações dos Municípios do Estado do Pará (Famep), Iran Lima,
informou que a entidade ainda não recebeu a confirmação de quais casos
de atrasos nos salários são verdadeiros, mas ele acredita que, caso isso
esteja acontecendo, o motivo pode ser o fato dos recursos repassados às
prefeituras esse ano estarem abaixo do esperado.
Mesmo sem receber desde setembro, o
porteiro da Secretaria de Agricultura de Marituba, Paulo Jorge de
Oliveira Dias, tem ido todos os dias trabalhar. "Eu estou vivendo da
ajuda de irmão, mãe e dos amigos", revela. O salário que ele tem
direito, de R$ 808,60, é o único recurso da família, uma vez que a
mulher, Eva e os filhos dela, de 17 e 20 anos, não trabalham.
Atualmente, Paulo acumula dívidas com banco, supermercado,
concessionária de luz e água.
No dia em que O LIBERAL entrevistou o
porteiro, na última terça-feira, ele descobriu que a prefeitura havia
depositado R$ 387 em sua conta, ou seja, menos da metade de um dos três
salários que ele já deveria ter recebido. "Tenho empréstimo no banco, em
loja e tudo está correndo juros. Acho que com os juros, minha dívida já
chega a R$ 2 mil. Tenho três papéis de luz atrasados. Estão para cortar
nossa energia", lamenta.
Chefe de limpeza da Secretaria de Obras
de Marituba, Geraldo Nilo, de 63 anos, também está sem receber desde
setembro. Ele também não recebeu nenhuma parte do décimo-terceiro e nem
férias. "Depois da eleição, era comum atrasar pagamento, mas depois
pagavam. Só que dessa vez isso não aconteceu. Foi se arrastando, atrasou
e não se normalizou mais. Se você for em casa agora, tem um pessoal da
Cosanpa cortando a água. Na semana passada, cortaram a minha luz.
Estamos sem energia em casa. A gente também não tem mais crédito em
lugar nenhum. Quando chega nesses supermercados, eles perguntam logo
onde a pessoa trabalha. Se for na prefeitura, não adianta nem falar em
fiado. Tem pai se escondendo do filho para não ser visto chorando",
relata.
A mulher de Geraldo, Deusolinda, de 60
anos, recebe uma aposentadoria de R$ 1.200, mesmo valor do salário dele.
É esse recurso que tem garantido o sustento da família desde então. Com
o orçamento pela metade, ele também faz alguns "bicos" para garantir
uma renda um pouco maior. "A gente faz negócios de plantio, jardinagem,
pintura. Vai se virando como pode", revela.
Coordenadora geral do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) de
Marituba, Iolanda Freitas confirma a situação. Segundo ela, só uma parte
dos servidores da educação recebeu o salários dos meses de outubro e
novembro. O problema envolve tanto os temporários quanto os efetivos.
"Educação eles pagam porque tem sindicato por trás. Aquelas áreas que
não tem sindicato, eles ficam enrolando", afirma. Iolanda diz ainda que
muitas escolas estão sem luz e energia por falta de pagamento. "Eles não
dão nenhuma justificativa. Dizem que está tudo em dia, mas está aí a
calamidade. De setembro para cá, começou a atrasar", revela.
O Liberal
Nenhum comentário:
Postar um comentário