Faz
35 anos que Antonia Melo da Silva luta para preservar a Amazônia e
frear a construção da gigantesca usina hidrelétrica de Belo Monte
na bacia do rio Xingu, afluente do Amazonas. Nesta terça-feira (10),
ela foi premiada em Nova York sob aplausos.
No
entanto, esta mãe e avó de 68 anos de origem humilde, moradora de
Altamira, no Pará, e fundadora há duas décadas do “Movimento
Xingu Vivo para Sempre”, coletivo de povos indígenas, organizações
religiosas, mulheres, pescadores e outros habitantes da região, não
alcançou o seu maior objetivo.
Belo
Monte, um projeto da ditadura militar que se tornou bandeira dos
governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, já opera
parcialmente e é destinada a ser a terceira maior usina hidrelétrica
do mundo quando suas obras terminarem, em 2019, ainda que a empresa
responsável pela obra, Norte Energia, seja investigada pelo suposto
pagamento de propinas milionárias.
O
Brasil é o país mais perigoso do mundo para os ativistas
ambientais, e Antonia é alvo de ameaças de morte. Mas ela continua
lutando, agora para obter indenizações para os cerca de 40.000
deslocados pela construção, que já inundou parte da floresta –
quase 400 km2 ficarão debaixo d’água -, afetando a pesca,
sustento das comunidades locais.
– “Não
tem dinheiro que compense” –
“O
estrago que causou nas pessoas, no meio ambiente, na vida tradicional
das comunidades, dos indígenas, não tem dinheiro que compense”,
declarou Antonia à AFP minutos antes de receber o seu prêmio em um
luxuoso hotel de Manhattan, uma doação em dinheiro – de valor não
divulgado – para sua organização.
Antonia
foi desalojada à força de sua casa às margens do Xingu em 2015,
assim como o resto de seus vizinhos. Eles foram levados para novas
residências que, segundo ela, “já estão indo abaixo”. E
assegura que apesar do avanço das obras “para o Movimento Xingu
Vivo Belo Monte não é fato consumado”.
“Tem
muita coisa a ser resolvida. Continuo lutando para denunciar os
crimes que Belo Monte fez e está fazendo. Para denunciar esse modelo
destrutivo da vida, socioambiental, um modelo insustentável que não
gera uma melhoria da qualidade de vida e não gera um benefício para
as populações locais, e que causa muitos danos, muitos prejuízos,
morte, doença (…). E destrói o meio ambiente e a natureza”,
afirma.
Antonia
assegura que Altamira tem a energia mais cara do Brasil apesar da
usina ser construída ali. E denuncia o aumento brutal da violência,
do abuso e da exploração sexual de menores de idade, sobretudo de
meninas, e o tráfico de pessoas na cidade desde que as obras
começaram.
– “Tudo
menos limpa” –
O
filantropo Alex Soros, de 31 anos, filho do multimilionário George
Soros e diretor da fundação que leva seu nome, assegura que Belo
Monte “está literalmente afogando o pulmão da Terra” e “tapando
as suas artérias, o grande rio Amazonas que leva água e comida para
milhões de pessoas”.
“A
vencedora deste ano tem lutado valentemente para mostrar ao Brasil e
ao mundo que as usinas hidrelétricas destroem vidas, famílias,
comunidades. Esta é uma fonte de energia que é tudo, menos limpa”,
continuou.
“Amazônia
viva, planeta vivo!”, gritou Antonia, emocionada, com o punho em
riste ao receber o prêmio diante da elite de filantropos e
funcionários de fundações e ONGs.
O
custo da hidrelétrica subiu consideravelmente, com um último
cálculo de 13 bilhões de dólares.
A
obra, iniciada em junho de 2011, foi interrompida em várias ocasiões
por ordens judiciais, protestos indígenas e conflitos trabalhistas.
Quando
estiver em plena operação fornecerá 11.233 MW, 11% da capacidade
energética instalada no Brasil.
A
Fundação Alexander Soros se dedica a promover projetos de direitos
civis, justiça social e educação por meio de doações a
organizações nos Estados Unidos e no exterior.
Fonte:
Istoé
Nenhum comentário:
Postar um comentário