Cerca de 800 trabalhadores
da Usina Hidrelétrica de Belo Monte lotados no Sítio de Pimental, uma das
frentes de obras, decidiram parar suas atividades. Apesar de confirmada pelo
Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), a paralisação não tem respaldo do
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Pará (Sintrapav),
legitimado pela Justiça para representar os trabalhadores da usina.
Segundo o consórcio responsável pelas
obras civis do empreendimento, a verdadeira motivação é uma disputa entre
sindicatos pela representatividade dos mais de 20 mil trabalhadores da obra. De
um lado está o Sintrapav. Do outro, defendendo a substituição deste pelo
Sindicato dos Trabalhadores da Industria da Madeira e da Construção Civil de
Altamira e Região (Sinticma), a Central Sindical Popular (Conlutas).
Foi a Conlutas que entrou em contato
com a Agência Brasil para informar a paralisação. O líder
sindical da entidade, Walter Santos, disse que a paralisação abrangeria 100%
dos trabalhadores do Sítio Pimental. “São mais de 4 mil trabalhadores parados”,
disse.
O CCBM, por outro lado, diz que, dos
4 mil trabalhadores lotados em Pimental, no máximo 20% teria aderido ao
movimento, mas que a obra continua funcionando normalmente e que a diminuição
do ritmo é consequência de medidas preventivas de segurança no Sítio de
Pimental. Os demais canteiros funcionam a pleno vapor.
Apesar de não representar os
trabalhadores da obra, foi a Conlutas que apresentou a lista de reivindicações.
“Queremos um adicional de confinamento que correspondente 40% do valor
apresentado em contracheque; a redução de seis para três meses do intervalo
entre as baixadas [período de folga dado aos trabalhadores vindos de outras
regiões para visitarem suas famílias] para os recém-contratados [funcionários
mais antigos já conquistaram a redução]; plano de saúde; pagamento correto
pelas horas trabalhadas nos fins de semana; telefonia de melhor qualidade; e o
fim do trabalho na chuva”, disse o representante do Conlutas. “Além disso
queremos a destituição do Sintrapav”.
O vice-presidente do Sintrapav,
Roginel Gobbo, disse que não há qualquer paralisação nos canteiros, muito menos
uma lista de reivindicações. “Nem poderíamos fazer tais reivindicações, porque
acabamos de sair da nossa data base, que é em novembro. Claro que, como de
hábito em obras de grande porte, há sempre algumas reivindicações e pedidos
sendo feitos”, disse.
De acordo com o CCBM, mesmo que
houvesse interesse em negociar, a negociação jamais poderia ser feita com a
Conlutas, pois a entidade "não tem a menor legitimidade para falar em nome
dos trabalhadores ligados à obra". A legitimidade - argumenta o CCBM tendo
por base a legislação - pertence exclusivamente ao Sintrapav.
Tanto a Conlutas como um empregado do
CCBM informam que, em média, a contribuição sindical, paga mensalmente por
todos os funcionários ao Sintrapav é R$ 30. Atualmente, há cerca de 22,5 mil
trabalhadores contratados. A expectativa é que, no segundo semestre, se atinja
o pico de contratações da obra: 28 mil trabalhadores. O sindicato que obtiver o
respaldo dos operários terá, na época de pico, uma receita mensal de R$ 840 mil
– ou R$ 10,08 milhões anuais.
As suspeitas de que, por traz da
paralisação, está uma briga sindical é confirmada pelo Sintrapav, mas negada
pela Conlutas. “Não é guerra de sindicatos, e sim insatisfação dos operários
com o Sintrapav”, diz o representante da Conlutas. “Quem diz isso faz um
discurso frouxo, de salão, que tenta nos pôr roupa e imagem que não nos
pertencem. Nosso interesse não é econômico. É político. Sempre do lado dos
trabalhadores”.
Edição: Fábio Massalli
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