Almires Martins Machado, da etnia
Guarani, é o primeiro indígena a receber o título de doutor na
Universidade Federal do Pará (UFPA), com o trabalho intitulado ”De
Sonhos ao Oguatá Guassú em busca da(s) Terra(s) Isenta(s) de Mal”. A
apresentação aconteceu em uma sala, lotada, da Congregação no Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), com a presença de docentes,
discentes e outros indígenas, na última sexta-feira (20), em Belém.
O trabalho de Almires, orientado pela
professora Jane Beltrão, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia
(PPGA), do IFCH, versou sobre a história de seu povo. “Quando disse na
minha aldeia que iria fazer uma tese, me disseram ‘agora vais escrever a
nossa história, de um jeito que os brancos entendam’”, disse o agora
doutor.
“Terra sem Mal”
O autor contou sobre a migração dos Guarani, que saíram de Missiones, na Argentina, até chegar ao Pará, em busca do que chamam de “terra sem mal”. Para explicitar as motivações do seu povo, Almires discorreu sobre a visão de mundo dos Guarani e o significado dessas mudanças de locais de morada, em que a terra habitada, de local estranho, se torna ressignificada, humanizada, “guaranizada”, numa caminhada em busca do bem viver. Ao comentar a cultura de seu povo, ele também refutou compreensões da etnologia feita por não-indígenas acerca dos indígenas. “É preciso repensar o que já foi dito e escrito sobre nós”, frisou.
O autor contou sobre a migração dos Guarani, que saíram de Missiones, na Argentina, até chegar ao Pará, em busca do que chamam de “terra sem mal”. Para explicitar as motivações do seu povo, Almires discorreu sobre a visão de mundo dos Guarani e o significado dessas mudanças de locais de morada, em que a terra habitada, de local estranho, se torna ressignificada, humanizada, “guaranizada”, numa caminhada em busca do bem viver. Ao comentar a cultura de seu povo, ele também refutou compreensões da etnologia feita por não-indígenas acerca dos indígenas. “É preciso repensar o que já foi dito e escrito sobre nós”, frisou.
Tese escrita pela aldeia
Assim como o tema de sua tese foi decidido pela comunidade, a escrita também foi, de certa forma, coletiva, com a participação de todos nos relatos da história do povo. “A redação desse trabalho é minha, mas as ideias apresentadas foram todas discutidas com a comunidade. Até a versão final da tese passou por uma revisão da aldeia”, destacou.
Assim como o tema de sua tese foi decidido pela comunidade, a escrita também foi, de certa forma, coletiva, com a participação de todos nos relatos da história do povo. “A redação desse trabalho é minha, mas as ideias apresentadas foram todas discutidas com a comunidade. Até a versão final da tese passou por uma revisão da aldeia”, destacou.
Da mesma forma, o próprio ingresso de
Almires no ensino superior foi decidido pela comunidade. “Eu fui
escolhido pelo conselho de velhos, que definiram que eu seria a pessoa
da nossa aldeia que deveria entrar na universidade para conhecer o
pensamento do branco. Agora, como professor universitário, a expectativa
deles é que, estando aqui dentro, eu ajude a dar cada vez mais
condições de trazer mais indígenas para cá.”
Inclusão
Toda a trajetória acadêmica de Almires esteve relacionada com as políticas afirmativas para indígenas, desde sua graduação em Direito, no Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), no Mato Grosso do Sul, até o mestrado em Direitos Humanos e Doutorado em Antropologia, na UFPA. A Federal do Pará foi pioneira em reservar vagas para indígenas e negros nos seus Programas de Pós-Graduação.
Toda a trajetória acadêmica de Almires esteve relacionada com as políticas afirmativas para indígenas, desde sua graduação em Direito, no Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), no Mato Grosso do Sul, até o mestrado em Direitos Humanos e Doutorado em Antropologia, na UFPA. A Federal do Pará foi pioneira em reservar vagas para indígenas e negros nos seus Programas de Pós-Graduação.
Almires considera seu doutoramento uma
resposta à sociedade. “Isso mostra a nossa capacidade de chegar a
qualquer patamar. Precisamos apenas de políticas públicas,
oportunidades”, opinou.
Compuseram a banca examinadora da
defesa, além da orientadora, professora doutora Jane Beltrão, os
professores doutores Eremites de Oliveira, da Universidade Federal de
Pelotas (UFPEL), e Mauro Cezar Coelho, Márcio Couto Henrique e Cristina
Donza Cancela, da UFPA. Os avaliadores ressaltaram a qualidade do
trabalho e sua relevância para qualquer interessado na temática
indígena.
Para a orientadora, a tese é muito
importante porque apresenta a história do ponto de vista dos Guarani, e
não do ponto de vista de não-indígenas. “Existe uma literatura muito
farta sobre os Guarani, mas não feita por eles próprios”, lembrou. Para
ela, Almires é apenas o primeiro de muitos indígenas que ainda receberão
o título de doutor na UFPA. “O trajeto percorrido por ele é a
demonstração de que, apesar de todos os percalços que os povos indígenas
passam para chegar à universidade, eles se diplomam por sua própria
capacidade e experiência que possuem. As políticas de reserva de vagas
dão certo, precisamos apostar nelas cada vez mais”, comemorou.
G1 Pará
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