A estudante Gláucia
Gomes Pereira, 28, olha atenta para a tela do computador. Concentrada, visita
páginas que lhe ajudam a complementar seu atual esforço diário como aluna de
cursinho pré-vestibular. Ela, que trabalha também meio expediente, todos os dias,
como agente de panfletagens, nas ruas de Belém, tem um sonho que pode mudar os
rumos de sua vida: quer um dia se formar em Pedagogia. E por tudo isso, sabe
como é importante ter um porto seguro, um espaço onde possa conseguir apoio
para que este sonho fique cada dia mais próximo e acessível.
No
bairro da Pratinha, onde Gláucia mora, o acesso à internet é um obstáculo
cotidiano aos que não têm maior renda. “Venho sempre que posso, mas dependo do
meu tempo. Aqui é bem mais fácil. O ciber mais próximo da Pratinha fica muito
longe de casa. É impossível contar com esse acesso”, assevera a estudante, em
tom determinado. Ao lado dela, dezenas de outros rostos com histórias muito
parecidas se iluminam frente a outras telas de computadores. Gláucia é mais uma
entre os milhares de usuários que todos os meses passam pelo infocentro do
programa Navegapará instalado na biblioteca Arthur Vianna, no Centur, em Belém.
Instalado
em 12 de junho de 2012, e hoje equipado com 80 terminais de acesso à internet,
o infocentro do Centur é apenas um dos 164 espalhados por todo o Pará. Todos
são parte de uma política do Governo do Estado – realizada por meio da
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet) e
da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará
(Prodepa) – que já garantiu mais de 75 pontos de acesso público à internet em
65 municípios paraenses. Um grande esforço pela inclusão digital, cujo balanço
merece especial atenção nesta terça-feira, 17 de maio, quando se comemora o Dia
Mundial da Sociedade da Informação – mais popularmente conhecido como Dia
Mundial da Internet -, que marca os esforços pela universalização do acesso à
rede mundial de computadores em todo o globo.
Esse
esforço governamental coloca atualmente o Pará entre os estados que mais lutam
pela democratização do acesso à web. É uma luta que, apenas na oferta de acesso
público e gratuito à internet, levado pela Prodepa e pelo programa Navegapará
aos seus municípios, já representa uma expansão de 105% apenas de 2014 a 2016:
nesse período, o Pará saltou de 31 para 65 em número de municípios que já
contam com acesso público à web, através infocentros, pontos de acesso e hot
zones com redes Wi-Fi disponibilizados através de tecnologias de fibra ótica e
de internet por rádio. E até 2018, estima-se que outros 19 municípios sejam
beneficiados por essa expansão.
Web pela Cidadania
“Espaços
como esses são muito importantes para muita gente. Esse acesso na biblioteca já
me ajudou muito”, defende a estudante Gláucia Gomes. O apoio diário, buscado no
infocentro instalado na Biblioteca do Centur, representa muito para quem não
tem outros meios para acessar o mundo digital. Para Gláucia, foi o fator
decisivo para que ela conseguisse finalmente acessar a inscrição no Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) – e passasse e aprofundar seus estudos para que um dia
consiga realizar o sonho de ingressar no ensino superior.
No
mesmo salão da biblioteca Arthur Vianna, João Pedro Melo, 19, está mergulhado
em um livro. A rede Wi-Fi disponibilizada pelo infocentro do Centur permite
também acesso ao notebook da sua colega estudante, sentada à mesma mesa. No
quieto murmurar de páginas viradas, suspiros e cochichos que costuram o tom
sóbrio e silencioso do espaço de leitura, os dois complementam os estudos. João
frequenta a biblioteca três vezes por semana, para revisar e pesquisar matérias
e navegar na web. Tudo de olho nas provas do Enem. E ele assegura: esse é um
hábito que foi fortalecido pelas facilidades oferecidas pelo infocentro.
“Acho
muito cômodo acessar a internet aqui [na biblioteca do Centur]. O local é
agradável e propício aos estudos”, justifica o estudante, que quer disputar uma
vaga no curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia
(Ufra). “O poder público tem que fazer isso mesmo: investir mais para aumentar
o acesso à internet. Isso é muito complicado ainda para uma grande parte da
população”.
O que
João Melo resume se expressa em números vigorosos. Apenas no coração da
biblioteca Arthur Vianna, o infocentro do Navegapará instalado no Centur
contabiliza mais de três mil usuários a cada mês – num atendimento diário que
segue das 8h30 às 18h e é ofertado a partir de cadastros feitos junto à
biblioteca. “É um serviço que, em sua maioria, serve tanto à pesquisa de
conteúdos para estudantes quanto para acesso a redes sociais e outros serviços.
Tudo com a ajuda de quatro monitores, que auxiliam no controle da navegação de
acordo com a idade dos usuários”, enumera Ruth dos Santos, coordenadora da
Biblioteca Arthur Vianna, do Centur.
“O
infocentro representou um diferencial muito grande para a rotina da biblioteca.
E ele não invalidou o acesso convencional ao acervo. Muito pelo contrário: esse
acesso à internet trouxe um público maior para a biblioteca e abriu portas para
os demais conteúdos de nosso acervo, de 800 mil exemplares, que em geral
complementam suas pesquisas”, avalia a coordenadora da biblioteca. Lá, o acesso
possibilitado pelo infocentro também facilita o contato com os mais de 55 mil
títulos da biblioteca já disponíveis por pesquisa online, através do sistema
Pergamum. Além disso, o aceso à web também facilita os apontamentos digitais
para boa parte das 230 obras raras já digitalizadas do acervo da biblioteca
Arthur Vianna.
Avanços em Inclusão
“Isso
tudo é muito importante pelos desafios das distâncias do Estado. Nossa
expectativa é fazer esse acesso à internet chegar às cidades que mais precisam,
para além dos interesses e das lógicas do mercado da telefonia”, justifica Théo
Pires, presidente da Prodepa. Ele se refere ao bom balanço do atual processo de
fortalecimento e de avanço das políticas públicas do Pará, que hoje vêm
enfrentando os gargalos regionais para a universalização do acesso à rede
mundial de computadores. A lógica é simples: todo esse trabalho tem impactos
muito mais profundos para a população paraense, que vão além da simples
facilitação do acesso à web.
“É
de grande interesse do Governo do Estado oportunizar uma melhor maneira para
garantir esse acesso, seja por hot zones, por fibra ótica, por rádio ou por
infocentros. Levar a internet às comunidades paraenses significa muito mais que
o simples acesso. Isso também permite abrir as portas para serviços públicos e
diversos outros”, ressalta Théo Pires.
O
presidente da Prodepa reforça: esse movimento também gera suporte
infraestrutural para investimentos da iniciativa privada, que precisam também
de apoio a essas demandas. Ampliar o acesso à rede mundial de computadores,
portanto, além de fortalecer serviços públicos e atender diretamente à população,
também é apoiar investimentos que fomentam o crescimento em várias regiões do
Estado.
Os
esforços atuais para a ampliação da rede de fibra ótica oferecida hoje pelo
Estado é um exemplo dessa política. O compromisso firmado pelo Governo do
Estado foi estabelecer pelo menos mais 1.500 quilômetros de fibra ótica
instalados em todo o Estado, de 2015 até 2018. “Temos muita esperança de que
chegaremos a 2018 com um resultado além da meta estabelecida”, pontua o
presidente da Prodepa.
E
há também previsão de expansão da oferta para além dos 65 municípios hoje já
atendidos com hot zones para acesso à internet pela rede estadual – as hot
zones são áreas de acesso liberado à internet, através de tecnologia Wi-Fi de
rede sem fio (wireless), criadas através da instalação de vários hot spots
(locais onde a tecnologia Wi-Fi está disponível). O Navegapará tem trabalhado
para multiplicar essas áreas nos municípios paraenses, permitindo acesso
público em praças, orlas e outros logradouros municipais.
Até
julho, a previsão é que o Pará alcance o número de 69 municípios com acesso à
internet em logradouros públicos. E o avanço das tecnologias para isso também
segue. A meta é estabelecer o acesso via fibra ótica já nos novos municípios a
serem atendidos. Outro objetivo é também, aos poucos, ir avançando com a
tecnologia – que permite maior velocidade e melhores condições de acesso –
naqueles que já oferecem o acesso à internet por rádio, a partir dos pólos que
já dispõem da tecnologia de fibra ótica.
Ponta de Pedras é a
primeira cidade digital do Marajó
Um
exemplo dessa corrida é a cidade de Ponta de Pedras, localizada a 40
quilômetros de Belém, no Arquipélago do Marajó. Ela se tornou o primeiro
município do Marajó a se tornar Cidade Digital, recebendo internet por sistema
de rádio através do programa Navegapará. Além de disponibilizar acesso à rede
para órgãos municipais e estaduais, como unidades da Seduc, Semed e Sesma –
melhorando o acesso a serviços públicos -, o programa também implantou um ponto
de acesso livre na praça da cidade, para que a população possa usar Wi-Fi
gratuito.
Esse
esforço em Ponta de Pedras antecede outro avanço que em breve se concretizará,
através de um projeto pioneiro a ser implantado ainda neste primeiro semestre
de 2016: a interligação, através de fibra ótica, do Arquipélago do Marajó à
rede pública de internet. O projeto, desenvolvido em parceria firmada entre
a Prodepa e a Rede Celpa, prevê a instalação de um cabo subaquático que
atravessará a baía do Marajó, interligando a praia do Caripi, em Barcarena, e
Ponta de Pedras.
No
cabo elétrico de 40 quilômetros, já lançado nas águas da baía – com o intuito
de levar energia firme a Ponta de Pedras -, foram introduzidos também cabos de
fibra ótica para levar ao arquipélago internet em alta velocidade. Com isso,
ainda este ano o município de Ponta de Pedras será a porta de entrada da fibra
óptica no Marajó, abrindo os caminhos para que a tecnologia chegue em breve
também a Soure e Breves.
Dos
65 municípios atendidos com a internet pública oferecida pela rede Navegapará,
da Prodepa, agora já são 20 os municípios atendidos com 100% de acesso via
fibra ótica – incluindo a aguardada chegada da tecnologia a Ponta de Pedras.
Nesse contexto, pelo menos 34 municípios a mais foram alcançados pela rede
Navegapará desde 2014. A estimativa é que, até 2018, pelo menos outros 19 sejam
beneficiados com acesso à internet pela Prodepa. Uma mostra disso é o esforço
recente para se levar o acesso por fibra ótica de Santa Maria do Pará, que já
desfruta dessa tecnologia, a São Miguel do Guamá, que hoje já é atendida por
acesso via rádio.
E
há mais ainda por vir. Através do Programa Nacional de Banda Larga do Governo
Federal, o programa Xingu Conectado já prevê a implantação de estruturas para
acesso à internet em municípios do entorno da região da hidrelétrica de Belo
Monte – cinco por fibra ótica e um por rádio.
De Infocentros a
hot zones: luta histórica
Nesse
panorama dos esforços em inclusão digital realizados em vários municípios
paraenses, a atual expansão das hot zones pelo programa Navegapará em todo o
Estado expõe uma preocupação especial da Prodepa com uma nova realidade que vem
crescendo no País: o acesso da internet via telefonia móvel, que cresce
vertiginosamente no Brasil.
Dados
recentemente publicados pela última pesquisa nacional por amostragem de
domicílios (Pnad), do IBGE, apontam que, no Brasil, o acesso à internet por
celulares já ultrapassou o tradicional acesso por computadores domiciliares.
Esse é um fenômeno que exige atenção aos novos hábitos dos brasileiros e, em
especial, dos paraenses.
“É
uma mudança de comportamento que tem grande expressão no Pará”, avalia o
presidente da Prodepa, Théo Pires. E se hoje é cada vez mais fácil ter acesso
aos smartphones, isso certamente já transforma a maneira como as estratégias
para a inclusão digital podem se efetivar. “Porém, o acesso à internet através
de celulares e empresas de telefonia ainda deixa muito a desejar no Pará. Por
isso a atual política do Governo do Estado, de oferta de acesso por hot zones,
segue hoje nesse caminho, dessas novas demandas dos paraenses”, ressalta Pires.
Para lembrar
O
dia 17 de maio foi instituído como o Dia Mundial da Internet na Assembleia
Geral das Nações Unidas (ONU) realizada em 2005, na Tunísia. Reunida, à época,
a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI) propôs naquele ano à
ONU a criação de uma data que marcasse os esforços globais pela inclusão
digital. Entre as metas estabelecidas pela cúpula estavam a necessidade de
ações que minimizassem os quadros de exclusão digital ao redor do globo, além
do reforço da interligação, a partir da internet, de países desenvolvidos e
subdesenvolvidos.
É
nesse contexto que se encaixa o Navegapará – o programa do Governo do Estado
que engloba espaços públicos de inclusão digital (infocentros) e pontos de
acesso livre e de acesso comunitário, com o intuito de prover serviços de
comunicação de dados por infovias, redes metropolitanas e através das chamadas
‘cidades digitais’. Hoje o Navegapará é coordenado pela Secretaria de Estado de
Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet) e pela Empresa de
Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará (Prodepa).
Por
Lázaro Magalhães
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