Sentado na varanda de sua casa, Francisco Braga de Oliveira, de 84 anos, pensa sobre a Altamira de hoje, uma cidade que o viu crescer, mas que hoje ele a enxerga apenas na memória, já que a idade avançada lhe tirou a visão. Ao lado da esposa dona Eládia Silva de Oliveira, recorda os momentos históricos da cidade, que completa hoje 104 anos de idade. Estes momentos se misturam com a história deles próprios, dos filhos, netos e bisnetos.
Altamira foi reconhecida como município em 6 de novembro de 1911. Vinte e três anos depois, no dia 23 de outubro, nasce seu Braguinha, ou Chico, como também é conhecido. Ao lado da mãe e dos irmãos e, posteriormente, da esposa e dos filhos, percorreu grande parte da região da cidade.
Quando menino, cortava lenha e carregava água do Rio Xingu para abastecer a sua casa e de vizinhos próximos. A cidade, na época, tinha não mais que duas ruas. Em sua trajetória, foi pescador, trabalhou muitos anos na extração da borracha e conheceu como a palma de sua mão as matas locais.
Conheceu figuras como o prefeito José Edson Burlamaqui de Miranda, em 1958, que o ajudou financeiramente para que Chico pudesse tratar-se de uma enfermidade adquirida em confronto com indígenas. Sua esposa, Dona Eládia, aos 22 anos, tratou-se de uma enfermidade, inclusive passando por cirurgia, no Hospital Municipal São Rafael, recém-inaugurado.
A memória de seu Braguinha parece permanecer intacta, pois recorda-se, inclusive, da quantidade de carros que havia na cidade no ano de 1965: dezesseis. Ele conta ainda que a Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes era a pista de pouso da cidade. Chico diz que apenas em 1975,Altamira começou a crescer e tomar forma.
Entre os anos de 1966 e 1982 viveram na capital do Estado, mas a saudade falou mais alto e eles retornaram para a terra natal. Hoje o casal quase não reconhece na Altamira atual, a cidade de sua juventude, que se transformou ao longo dos anos.
Não faltam “causos” a este paraense que hoje repassa sua história para os seis filhos – tiveram nove, mas três já faleceram -, 15 netos e 16 bisnetos. “Ainda temos a ferramenta utilizada para extrair o leite da seringueira”, conta ele antes de oferecer um cafezinho e se perder em lembranças.
O XINGU
Nenhum comentário:
Postar um comentário