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© Daniel Teixeira/Estadão Caminhoneiros formaram comboios na greve de 2018 |
A nova resolução sobre a
política de pisos mínimos do frete rodoviário, publicada nesta quinta-feira,
18, pela Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), foi considerada condizente com os valores de mercado por
exportadores, mas criticada por alguns representantes dos caminhoneiros, que
ameaçam nova paralisação.
A
resolução, que estabelece regras gerais, metodologia e coeficientes dos pisos
mínimos referentes ao quilômetro rodado na realização do serviço de transporte
rodoviário de cargas, foi aprovada após estudo técnico realizado pela Esalq-Log
e processo de consulta pública e entra em vigor neste sábado, 20.
Segundo
a ANTT, a elaboração da resolução teve participação de transportadores
autônomos, empresas e cooperativas de transporte, contratantes de frete,
embarcadores e diversos outros agentes da sociedade e foram recebidas
aproximadamente 350 manifestações, que englobaram cerca de 500 contribuições
específicas, analisadas individualmente pela agência.
Wanderlei
Alves, o Dedeco, um dos representantes dos caminhoneiros que falavam em
paralisação da categoria em abril, se mostrou descontente com a nova resolução.
Em vídeo publicado no Youtube e distribuído via redes sociais, ele apontou
"frustração" com a nova tabela.
Segundo
ele, após reunião com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas,
caminhoneiros decidiram que até o dia 20 deste mês não iriam se manifestar.
"Tivemos várias reuniões depois, houve as audiências, mas infelizmente
pisaram na nossa cabeça", afirmou. "Estou frustrado, triste,
chateado, mas, nós, caminhoneiros, temos, sim, que dar a resposta e mostrar que
não ficamos satisfeitos. Se houver uma paralisação, se for essa a decisão da
categoria, contem comigo."
O
assistente executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec),
Lucas Brito, disse ao Estadão/Broadcast que a resolução está de acordo com o
que prevê a lei nº 13.703/2018, que estabeleceu a Política Nacional de Pisos
Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas.
Ele
assinalou, porém, que a associação continua contrária ao tabelamento.
"Pela primeira vez, na nossa visão, a ANTT procedeu de acordo com o que
estabeleceu a lei, promovendo audiências públicas, elaborando um trabalho
técnico, possibilitando a participação dos embarcadores e de todos os setores
interessados. É o que deveria ter feito nas resoluções anteriores e só fez
agora", disse. "Pela primeira vez foi apresentada uma tabela com
respaldo técnico."
Para
a Anec, a resolução é fiel ao que a Esalq-Log apresentou, além de contemplar
contribuições dos agentes que acompanharam a discussão, no sentido de buscar
"um modelo de máxima eficiência do transporte rodoviário para se chegar a
parâmetros que refletissem os pisos mínimos para uma operação de frete".
"Não atendeu exatamente tudo que poderia ter atendido, mas o trabalho da
Esalq foi muito bem elaborado", disse Brito.
Quanto
aos valores do frete, ele destacou que estão mais de acordo com a realidade do
mercado. "Analisando os valores em si da tabela, o que ela traz de valor
de frete base, numa avaliação preliminar podemos observar que ela corrige as
distorções da última tabela, cujos valores estavam muito acima do que o mercado
normalmente pratica. Hoje os valores apresentados estão mais condizentes com os
que seriam praticados no mercado sem interferência do governo", disse.
Entretanto,
ele reforçou que, como entidade, a Anec entende que a existência da tabela é "injustificável".
"A questão de aceitar uma tabela não mudou. Para o nosso setor, manteremos
a posição de que ela não deve existir. Aguardamos o pronunciamento do Supremo
Tribunal Federal (STF) quanto à constitucionalidade da medida." Conforme
Brito, entretanto, uma das sugestões que não foram contempladas é a criação de
medidas que coíbam a atuação de atravessadores e transportadoras que não
repassam o valor correto do frete aos autônomos.
Ele
apontou ainda que não estão disponíveis para consulta as fontes utilizadas para
criação de parâmetros de custos (como pneus ou depreciação, por exemplo).
"Essas informações devem estar dentro de algum documento para que setores
interessados possam ter segurança de que não vai haver modificação nessas
fontes que possa distorcer valores finais."
Conforme
nota da ANTT, a nova resolução tem 11 categorias de carga (geral, geral
perigosa, líquida a granel, líquida perigosa a granel, sólida a granel, sólida
perigosa a granel, frigorificada, frigorificada perigosa, neogranel, conteinerizada
e conteneirizada perigosa) e altera o formato da tabela de frete, que deixa de
ser por faixas de distância e passa a ser calculada com aplicação de
coeficiente de carga e descarga, coeficiente de deslocamento e quilometragem
percorrida para o transporte contratado.
Conforme
a agência, os parâmetros de cálculo foram baseados em pesquisa de preços em
nível nacional, para obtenção de indicadores de mercado, e aplicação de
questionário, para obtenção de parâmetros da operação.
Caminhoneiros
Representantes
dos caminhoneiros se dividiram. A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informou,
por meio de sua assessoria de imprensa, que ainda está avaliando a nova tabela
e não vai se pronunciar. Consultada, a Confederação Nacional dos
Transportadores Autônomos (CNTA) ainda não respondeu ao pedido de comentário.
Wanderlei
Alves, o Dedeco, afirmou no vídeo publicado no Youtube que "uma tabela de
frete feita por uma instituição que é uma escola ligada ao agronegócio jamais
ia servir para nós, sendo que o agronegócio é que mais bateu contra o piso
mínimo do frete". Ele disse estar se "sentindo ofendido com essa
tabela". "Estou me sentindo frustrado, assim como muitos, e quero
dizer uma coisa para cada um de vocês: eu estarei aqui, disponível e pronto,
para acatar a decisão da categoria."
Segundo
o representante, algumas contribuições dos caminhoneiros não teriam sido
acatadas, citando o caso do setor do transporte pressurizado em silo.
"Acho que houve uma falta de respeito não só com toda a classe, como com
todas as categorias de transporte, então vamos juntos mostrar que nós
merecemos, sim, respeito, que é um erro do governo. Eu acho que, da parte da
ANTT e da Infraestrutura houve falha", disse. "A falha precisa ser
corrigida, e, se não for, a categoria vai parar mesmo, porque nós não temos
condições de rodar. A tabela mínima do frete ficou abaixo do que é pago hoje,
que já está ruim."
Fonte:
MSN/Estadão
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