Se para uma minoria de católicos envolvidos com a vida da Igreja, a escolha de um bispo, ou de um arcebispo, ainda é um mistério, para o rebanho de um bilhão e duzentos milhões de almas, submetido (pelo menos em tese) às vontades e decisões do bispo de Roma - que vem a ser o Papa - é um assunto que praticamente não existe.
Para que se faça um santo, é preciso que alguém se anime a dizer que uma pessoa muito boa foi santa. Se o bispo da diocese acreditar na proposição e estiver convencido de que o candidato a santo pode ser, um dia canonizado, autoriza a pesquisa histórica. A decisão, porém, será do Papa, depois de ouvir um grupo formado por homens ligados à ciência (médicos, cientistas e professores), com ou sem fé, que estudarão os casos e dirão à Sagrada Congregação Para a Causa dos Santos, que a intervenção deles junto a Deus produziu resultados inexplicáveis para a compreensão humana. Diante de fatos incontestáveis, o sucessor de Pedro cumprirá a lei.
A vice-postuladora da causa de irmã Serafina, a freira Marília Menezes, filha do poeta Bruno de Menezes e integrante da congregação de Serafina, a das Adoradoras do Sangue de Cristo, que, em Belém, trabalham no Hospital Guadalupe, teve grande ajuda de padre Alberto no trabalho. Chamada de Anjo da Transamazônica, a freira foi um exemplo de amor ao próximo. Quando Bruno de Menezes morreu, em 2 de junho de 1963, Serafina se dispôs a acompanhar Marília a Belém e deu a ela todo apoio de que necessita uma pessoa que acaba de perder o pai. “A minha irmã Belém, a Maria de Belém (aqui eu interrompo a narrativa para um testemunho pessoal: ela era tão santa, que nem carecia de processo para ser elevada à glória dos altares) me disse assim: “Marília, esta irmã que tu trouxeste aqui em casa é uma santa”. A palavra premonitória de Maria de Belém se revelou verdadeira.
Na condição de Vice-Postuladora, irmã Marília precisou fazer viagens para os lugares onde irmã Serafina viveu. “Tive muito apoio da congregação e da minha família, que bancou deslocamentos, hospedagens e alimentação”. Irmã Marília já escreveu três livros sobre a futura santa e reverteu toda renda para a causa da canonização. “Eu estou trabalhando nisso há mais de 20 anos”. Na residência das Adoradoras do Sangue de Cristo estão guardados dezenas de volumes e, quase todos os dias, pela internet, a freira, de 83 anos, recebe depoimentos sobre a intervenção de irmã Serafina em causas consideradas impossíveis, e pedidos de relíquias. “Os ossos dela estão em Altamira, e as roupas, em Manaus. Mas a Igreja é muito cautelosa e nós também”. O decreto sobre as virtudes heróicas de irmã Serafina foi assinado pelo Papa Francisco, em janeiro de 2014. Por isso ela recebeu o título de venerável.
Para embasar o trabalho de pesquisa que poderá levar Serafina Cinque aos altares, irmã Marília adotou, como livro de cabeceira, o “Manualle per instruire i processi di canonizzione”, escrito e publicado em italiano, em 1991, pelo padre Romualdo Rodrigo. Esse manual, de 388 páginas, ensina, passo a passo, como deve proceder um postulador para que seu “cliente’, digamos assim, seja considerado santo. “Não há edição em português. Eu também me guiei muito pelo trabalho da irmã Célia Calderuim, postuladora da causa do Frei Galvão”. Depois de ouvir mais de 200 pessoas, ela pode, enfim, dar o trabalho por concluído.
Fonte: O Xingu
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