(Foto: Via WhatsApp) |
Paulo Sérgio Almeida Nascimento, 47 anos, foi morto com quatro tiros por
volta de 3h30 desta segunda-feira (12). Paulo era um dos representantes da
Associação dos Caboclos, indígenas e Quilombolas da Amazônia (CAINQUIAMA), que
desde de 2017 já havia cobrado da prefeitura de Barcarena se a empresa Hydro
possuía autorização para construção das bacias de rejeito.
A execução, infelizmente, não
surpreende. Em documento protocolado pelo 2° promotor de Justiça Militar
Armando Brasil Teixeira em 19 de janeiro, já são pedidas "garantias de
vida aos representantes da referida associação" diante das ameaças que
estavam recebendo:
Foto: Reprodução
Em
6 de fevereiro, o pedido, no entanto, foi negado por Jeannot Jansen, então
Secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará. No
documento, Jansen cita programas de apoio e proteção, como o Provita,
PPCAM e Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, aparentemente
sugerindo que algum deles sim teria que ser buscado para tentar garantir a
segurança dos representantes da associação.
Dias
antes, mais especificamente no dia 1°, outro representante da CAINQUIAMA, Bosco
Oliveira Martins Júnior, com ajuda do advogado Ismael Moraes, também havia
protocolado um pedido de proteção junto ao Governo de Jatene, o que também foi
ignorado.
Apesar
do documento listar ameaças feitas via mensagens de WhatsApp e também relato de
casos pessoais, que citam inclusive um capitão da PM identificado como
"Gama" e outro militar identificado como José, o parecer de Jeannot
foi negativo, obrigando Bosco e sua família a sairem de Barcarena e precisar se
esconder para sobreviver. Nas ameaças, até mesmo uma recompensa no valor de R$
40 mil por sua "captura":
Foto: Reprodução
Na
prática, os crimes citados contra Bosco seriam uma invenção para diminuir sua
atuação na região. O mesmo ocorre no despacho de Jansen, em que são listados
dez Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCOs) e Boletins de Ocorrências
(BOs) principalmente sobre crimes ambientais e ameaças, que seriam, de acordo
com o advogado Ismael Moraes, resultado da perseguição que o líder comunitário
estaria recebendo e não ocorrências de fato.
Providências
Após
a execução de Paulo, o advogado Ismael Moraes informou que já entrou em contato
com a Procuradoria da República e irá solicitar que o caso seja investigado em
esfera federal e não estadual, o que pode garantir uma investigação mais
profunda e correta sobre o caso.
Denúncias
não eram aleatórias
Novas
evidências de que a Hydro de fato vinha cometendo crimes ambientais por conta
de sua atuação em Barcarena, devem ser anunciadas nesta semana que começa. O
Instituto Evandro Chagas (IEC) informou que lança sua segunda nota técnica nos
próximos dias. Para a agência Reuters o pesquisador Marcelo Lima, que participa
das investigações, adiantou que o novo documento deve trazer informações sobre
um novo duto que teria vazado efluentes no município.
A
Hydro já está sendo investigada por uma força-tarefa dos Ministérios Públicos
Estadual e Federal que vai apurar os vazamentos de resíduos químicos nos
igarapés e rios da região mês passado e que provocaram fortes e graves danos
ambientais às populações da região de Barcarena.
A poluição foi confirmada em
fevereiro pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) a partir de amostras de
água coletadas em Barcarena, que apresentaram números elevados de diversas
substâncias nocivas, como fósforo, alumínio, nitrato e sódio, além da elevação
da alcalinidade da águas, atestando uma situação de dano ambiental ao
ecossistema local.
Ainda
de acordo com laudo, as populações das três principais comunidades afetadas --
Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba -- possuem, em sua maioria, poços artesianos
de baixa profundidade em casa, o que facilita a contaminação pelo resíduo. Uma
estimativa prévia é que pelo menos 300 pessoas tenham sido afetadas pelos
vazamentos recentes. Entre os principais danos causados pela contaminação,
estão problemas dermatolócidos e gástricos, além de possíveis danos
respiratórios.
Outro
dado alarmante levantado pelo IEC é que o "risco eminente de novos
vazamentos", já que o Pará ainda vive o período de chuvas, o que facilita
o transbordo das bacias de rejeitos.
Há
meses, o advogado Ismael Moraes já informava que mais de vinte bacias teriam sido
construídas na área para receberem rejeitos químicos estariam causando
problemas ambientais. Com as chuvas dos últimos dias, as bacias
ultrapassaram sua capacidade e não foram mais suficientes para conter as
substâncias, em especial bauxita, podendo causar um grave quadro de
contaminação na cidade.
Fonte:
DOL
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