Em busca de apoio
na luta contra a insegurança, vereador pede ação do governo, e consegue que
secretário volte o olhar para o interior
“Eu nunca mais
soube o que foi sentar na porta de casa, e não tenho coragem de levar meus
filhos para brincar na orla, tenho medo que eles vejam pessoas consumindo
drogas, ou assistam alguma tentativa de assalto”. O depoimento é da dona de
casa Maria Alice Rodrigues, de 42 anos, que mora em Altamira tempo suficiente
para saber que algo está fora do eixo. Como ela, outros milhares de
altamirenses preferem a reclusão em seus lares, tudo para evitar que sejam
vítimas de um crime qualquer.
Com um cenário
maligno, onde o mais provável é que você seja a próxima vítima, Altamira tem
sido notícia constante no cenário estadual, e até nacional, por conta do
crescente número de assassinatos, e casos envolvendo o tráfico de drogas. Uma
onda de violência que assusta, e põe em cheque um sistema que chegou ao seu
limite. “As pessoas estão cansadas, sufocadas, não sabem mais a quem recorrer,
e isso precisa parar, nossa cidade precisa voltar a ser nossa de novo”,
declarou a estudante Aline Silva Ramos, de 21 anos, durante a “Caminhada Pela
Paz”, que aconteceu em Altamira no último mês de outubro.
Em menos de 15
dias, dois crimes bárbaros assustaram a cidade. Uma família foi vítima de
quatro criminosos, que invadiram sua casa na periferia de Altamira, e após
anunciarem o assalto, estupraram uma mulher na frente do marido e dos filhos. O
crime causou muita revolta na população, que se mobilizou e organizou uma
caminhada pelas ruas da cidade, clamando por justiça e mais segurança. Mas
antes mesmo que as pessoas tomassem as ruas, um novo crime causou comoção: o
secretário de meio ambiente da cidade foi assassinado a tiros quando chegava em
sua casa, e, apesar dos esforços da polícia, até agora ninguém foi preso.
O número de roubos
aumentou cerca de 80% no último ano em Altamira. Em 2015, no mês de junho,
foram registradas 127 ocorrências. Em 2016, no mesmo período, foram 227
registros do gênero. Os dados divulgados pela Polícia Civil do Estado mostram o
avanço de um dos crimes mais comuns na cidade. “Eu cheguei em casa depois de um
dia de trabalho, e quando abria o portão, lá estavam eles, dois homens,
armados, exigindo minha moto, eu nunca senti tanto medo”, lembrou o mecânico
Augusto Corrêa da Costa.
Sofrendo os danos
causados pela ressaca da construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, Altamira
recebeu o maior número de migrantes, e hoje sofre com os mais variados
conflitos sociais. Para piorar a situação, o convênio mantido pela empresa
Norte Energia (responsável pela construção e operação da usina) e o governo do
estado foi encerrado, causando uma avalanche de mudanças significativas na
estrutura dos órgãos de segurança pública: o efetivo policial foi reduzido pela
metade; as viaturas mantidas pela empresa foram devolvidas às locadoras; o
helicóptero comprado com recursos da usina ainda não foi entregue à região, e
falta material humano para a polícia, os Bombeiros, e o Instituto Médico Legal.
Diante do caos
instalado, a sociedade civil organizada foi para as ruas pedir providencias, e
cobrar mais ação por parte da secretaria de segurança. Uma audiência pública
foi solicitada, mas a resposta do estado ainda não chegou. Preocupado com a
demora em atender as reivindicações da população local, o vereador Victor Conde
(PMDB) buscou apoio na Assembleia Legislativa do Estado, e conseguiu uma
audiência com o secretário Jeannot Jansen. “Eu fui até o governo, eu tinha que
ir lá, eu me comprometi com a população, e não posso deixar que o povo continue
sem uma resposta”, destacou o vereador.
Durante a reunião,
o parlamentar pediu urgência no tratamento de alguns assuntos, principalmente
no que diz respeito ao policiamento, que deixou as ruas da cidade sem a
proteção necessária. Para amenizar a situação, o vereador conseguiu que
veículos do moto-patrulhamento sejam recuperados, devolvendo a mobilidade aos
policiais. Outra vitória diz respeito à realização de uma audiência pública até
o final de novembro, onde o secretário apresentará um plano de contingência
para minimizar os impactos provocados pelo fim do convênio.
Sem gravar
entrevista, o secretário recebeu as demandas levadas pelo vereador de Altamira,
e se mostrou disposto a sentar novamente para discutir o assunto, mas agora, em
Altamira, onde a população também deverá ser ouvida. “Eu considero vitórias
importantes o que conseguimos com essa reunião, o compromisso firmado será
cobrado, e hoje, mais do que nunca, estamos unidos para que nossa cidade volte
a ser o que era antes, e nossa população tenha paz novamente”, afirmou o
vereador Victor Conde.
Por: Karina Pinto
Fonte: O Xingu

Nenhum comentário:
Postar um comentário