Ação
quer plano de reestruturação da atividade pesqueira e indenização mensal aos
pescadores, entre outras demandas urgentes
O Ministério
Público Federal (MPF) entrou na Justiça nesta segunda-feira, 28 de novembro,
com pedido de suspensão urgente da licença de operação da hidrelétrica de Belo
Monte, em Altamira (PA). O MPF quer que a suspensão vigore até que sejam
atenuados os impactos provocados pela usina ao ecossistema aquático e à pesca
no rio Xingu.
Segundo o MPF, “a gama de inconsistências técnicas e metodológicas apontadas
pelos estudos científicos independentes em crítica aos monitoramentos
realizados pela Nesa [Norte Energia, empresa responsável
pela hidrelétrica], deveriam ter levado o Ibama, com base no Princípio
da Prevenção, a embargar a
obra, até que os impactos ambientais verificados fossem completamente
eliminados, reparados, compensados e/ou mitigados”.
Apesar de impactos terem sido previstos no licenciamento e confirmados, por
exemplo, por uma mortandade de 16 toneladas de peixes que no início do ano
gerou multa superior a R$ 27 milhões à Nesa, a empresa nega a existência desses
danos.
Para cientistas, MPF e pescadores, a Nesa não enxerga os impactos porque faz um
monitoramento inadequado e bastante precário dos recursos e atividades
pesqueiros e da sua importância para a sobrevivência das famílias e para a
economia local.
A metodologia de monitoramento desconsidera espécies de peixes que estão entre
as principais para a pesca de sobrevivência e a pesca comercial na região, como
espécies de pacus e tucunarés, e omite o fato de que, para sobreviver, os
pescadores tiveram que aumentar as horas trabalhadas e a quantidade de redes
utilizadas, relata o MPF.
Segundo a ação, o monitoramento da Nesa ignora a produção da pesca de
subsistência – a modalidade de pesca mais importante para a região –, e não
analisa dados dos pontos de pesca, e sim de longos trechos do rio, o que impede
a retratação fiel da produção.
E, mesmo que fossem confiáveis, os dados levantados pelo monitoramento da
empresa continuariam a ser inúteis porque o Ibama demora demais para
analisá-los, critica o MPF.
“Chama atenção a assertiva da
Nesa, Ibama e União, sustentando não haver impactos ambientais sobre o
ecossistema aquático por ocasião do empreendimento, contrariando as regras
ordinárias de experiência, sendo o
Brasil, provavelmente, o único país no mundo que tenha estudos conclusivos
nesse sentido, após iniciadas as obras de uma usina hidrelétrica, que, por
natureza, utiliza pesados explosivos, intervém no curso natural do rio,
através do barramento, alterando radicalmente o modo de vida natural antes
existente”, afirma o procurador da República Higor Rezende Pessoa.
Demais
urgências – Além
da suspensão imediata da licença de operação, o MPF também pede à Justiça que a
Nesa, a União e o Ibama sejam obrigados a dar início de forma urgente ao
monitoramento constante da mortalidade de peixes nas áreas do Xingu impactadas
por Belo Monte, incluindo o reservatório da usina.
Outro monitoramento que o MPF pede para a Justiça determinar com urgência é o
do rendimento da pesca de subsistência. O MPF quer que a Nesa, o Ibama e a
União desenvolvam um aplicativo para telefones celulares que permita à
população atingida participar da monitoração do rendimento da pesca, como o
Pesca+Brasil (http://www.pescamaisbrasil.com/p/projeto).
O MPF também quer que a empresa responsável pela usina seja condenada a custear
plano de reestruturação e reordenação da atividade pesqueira da região de
Altamira e Vitória do Xingu. O plano, segundo a ação, deve ser elaborado pelo
Ibama, Secretaria de Aquicultura e Pesca, do Ministério da Agricultura,
pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e representantes dos pescadores de Altamira e Vitória do Xingu.
A ação objetiva, ainda, que os réus sejam condenados ao pagamento imediato de
indenização de R$ 4 mil mensais a todos os pescadores de Altamira e Vitória do
Xingu até que sejam tomadas todas as medidas necessárias para a reordenação e
reestruturação da atividade pesqueira da região, como forma de garantir
dignidade às pessoas que foram impedidas de trabalhar em decorrência das obras
da usina.
A Nesa deve ficar impedida de ter acesso a financiamentos, incentivos ou
benefícios fiscais oferecidos pelo poder público até que os impactos aos
pescadores sejam reduzidos e controlados, pretende o MPF.
Processo nº 0003072-96.2016.4.01.3903 – Justiça Federal em Altamira (PA)
Fonte:
MPF
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