Brasil Novo Notícias: BRT, Belo Monte e Educação motivaram manifestantes

terça-feira, 18 de junho de 2013

BRT, Belo Monte e Educação motivaram manifestantes


Há muito tempo não se via uma mobilização nessas proporções em Belém. Mais de 10 mil pessoas nas ruas, gritando críticas, dores e insatisfações. Eram tantas, que a pauta das reivindicações ficou extensa demais, um manifesto por todos os problemas que o povo enfrenta aqui e em todo o Brasil. No dia em que o país esteve nas ruas dizendo que não mais aguenta os abusos dos governos e autoridades, Belém apoiou os manifestantes das outras capitais com uma caminhada pacifica e ordeira.
A concentração começou em frente ao Mercado de São Brás. De 16h às 18h não paravam de chegar simpatizantes da causa. No momento da saída, algumas bandeiras partidárias se erguerem, mas logo foram rechaçadas aos gritos de “sem bandeira, sem bandeira”. A maioria pediu um movimento livre de identificações partidárias.

Máscaras, narizes de palhaço, apitos e inúmeros cartazes. “Enquanto você me assiste, você é explorado”, “dentre outras mil és tu, Brasil, o mais roubado”, “vamos todos juntos fazer a revolução”. O ato era majoritariamente dos jovens. Estudantes ávidos por uma grande manifestação. “A gente está numa luta por direitos. Não estamos falando só de saúde e educação estamos falando de direitos”, disse a estudante Amanda Valéria.

Mas, em meio a juventude injustiçada, cabeças brancas e experientes revelavam a grata surpresa de rever a cena. “Isso está me lembrando Paris de 1968, sinto que o clima é o mesmo e tenho a impressão de que vai crescer”, avalia José Antônio Almeida, aposentado. Mais à frente, Francisco Costa, outro aposentado, vê a mesma esperança. “Acho que a juventude voltou às ruas e sem medo, isso é muito bonito. Parece 1968”, comparou. Naquele ano, a capital francesa parou com uma greve geral dos estudantes e trabalhadores, gerando protestos que marcaram a década de 60.

Ao contrário da movimento estudantil francês e dos atos em outras capitais brasileiras, em Belém a paz reinou entre os manifestantes. Mesmo sendo de tribos diferentes, nenhum estranhamento ou conflito. Caminharam, cantaram e gritaram, respeitando a ordem pública e os 800 policiais de todas as tropas que acompanharam a passeata de São Brás ao Entrocamento.

Durante o percurso, o Hino Nacional foi várias vezes entoado, intercalado por gritos de “sem violência!”. A exceção ficou por conta de três jovens que provocaram uma briga após tentativa de furtos. O problema, porém, foi logo contido pela Polícia Militar.

A chegada ao Entrocamento marcou um novo ato. Todos sentaram e repetiram palavras de ordem. Lembraram que há 40 anos não se via algo assim.

Ressaltaram que “a revolução” começou nas redes sociais e que é lá que ela vai continuar se organizando. “Não foi por um partido, foi por todos nós”, gritou um participante do Movimento Belém Livre, que está à frente da manifestação no Pará.

A dispersão foi tranquila e liberou ao poucos as vias entupidas de manifestantes. “Foi incrível. Foi pelo descaso dos governos, pelo descaso do Estado e por já ter engolido demais”, resumiu a estudante Catarina Travassos.

BRT milionário e em atraso foi principal dos motivos

A capital do Pará registrou uma das maiores manifestações populares dos últimos dez anos. Quinze mil pessoas, segundo organizadores, e dez mil, na avaliação da Polícia Militar, tomaram as ruas dos bairros de São Braz e Marco, protestando contra as obras do BRT, um projeto de R$ 450 milhões que pretende oferecer serviço de ônibus de transporte rápido em faixa exclusiva, mas que se arrasta há mais de um ano e prejudica o trânsito na principal avenida de entrada e saída da cidade, a Almirante Barroso.

Os manifestantes também levaram cartazes contra a corrupção e o caos na saúde pública em Belém, além da criminalidade que coloca a capital paraense entre as mais violentas do mundo, segundo um estudo da Unesco. “O povo não suporta mais tanto descaso com a saúde, a educação, a segurança e corrupção com o dinheiro público”, afirmou José Wilson Ferreira, estudante.

O ajudante de pedreiro Eduardo Sarmento disse que foi ao protesto porque acredita que o povo “está acordando para reivindicar seus direitos”.

Partidos políticos que tentaram erguer suas bandeiras foram vaiados pela multidão e obrigados a recolhê-las sob gritos de estudantes e trabalhadores. A PM informou que mil homens garantiram a manifestação. Segundo os organizadores e policiais, nenhum caso de violência foi registrado.

A prefeitura não se manifestou, mas o prefeito Zenaldo Coutinho disse que a obra está sendo retomada e sua primeira etapa será inaugurada em dezembro. Ele culpou seu antecessor e ex- aliado político, Duciomar Costa (PTB), pelo atraso da obra.

Trânsito ficou lento, mas sem tumulto

Uma receita que tinha tudo para dar errado - com 10 mil pessoas protestando, rodeadas por 800 policiais militares prontos para o combate - acabou dando certo. A manifestação do movimento Belém Livre foi uma das mais pacíficas dos últimos anos e os incidentes registrados durante a caminhada não passaram de brigas isoladas de pessoas não ligadas ao movimento que se infiltraram na manifestação ou de ultra esquerdistas que se desentenderam por alguns momentos.

Muitos demonstravam até disposição para radicalizar e chegou-se a ouvir várias vezes o refrão “fecha a rua, fecha a rua, fecha a rua”. Mas, cercados por policiais por todos os lados, os manifestantes não se atreviam a gestos mais ousados. Algumas pessoas, identificadas como líderes do movimento, pediam o tempo todo para que se evitassem confusões e se cumprisse o que tinha sido acertado com a Polícia Militar.

O trânsito engarrafou como era de se esperar e os motoristas reclamaram, mas a polícia controlou a situação numa ação articulada com a Autarquia da Mobilidade Urbana de Belém (Amub), Detran e até com os Bombeiros. A fiscalização rigorosa e a pronta ação dos agentes não deixaram que os motoristas fechassem os cruzamentos, evitando que tudo parasse de uma vez.

Na João Paulo II, rota de fuga no início do protesto, o engarrafamento foi grande. O motorista de ônibus, Adenilson dos Santos Leal, 47, estava agoniado no volante. Ele tinha que estar no final da linha às 19h, mas já eram quase 20h e ele ainda estava na João Paulo II. “Tá muito ruim, tudo por causa dessa manifestação. Vamos ver se o trânsito melhora”.

“O trânsito está assim por causa desse protesto, não costuma ficar assim essa hora. O que Fazer? Espero que dê em alguma coisa e que não seja só mais uma para atrapalhar o trânsito”, criticou Augusto Kawage, motorista de caminhão. Já o motorista Edson Santos, 42, disse que “o bom desse protesto é que a gente vê a polícia e a Guarda Municipal trabalhando”.

Várias pessoas chegaram a ser detidas, mas a PM considerou que houve somente casos de desordem e os detidos foram liberados em seguida. O tenente coronel Rosinaldo, um dos oficiais da Rotam que seguiam na frente do protesto, foi até cumprimentado por vários manifestantes no Entroncamento, no final da manifestação.

O coronel Mário Solano, secretário adjunto de Operações da Secretaria de Estado de Segurança parabenizou os manifestantes e a polícia que, segundo ele, estava ali somente para “proteger a sociedade”. “Pacífica e ordeira, foi um exemplo para o Brasil de como deve ser feita uma manifestação numa democracia”, afirmou o coronel.

(Diário do Pará)

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