Cinco
frutas da Amazônia foram estudadas por uma pesquisadora da Unesp.
“Estes frutos são amplamente consumidos na região Amazônica e
possuem escassez de dados científicos”, diz a pesquisadora
Fernanda Rosan Fortunato Seixas, que avaliou pela primeira vez as
substâncias presentes nas polpas das frutas araçá-boi, abiu
grande, araticum, biri-biri e mangostão amarelo.
“Informações
como os potenciais benéficos e de toxidade podem estimular não só
o aproveitamento e a inserção destas frutas nas dietas
tradicionais, mas também na formulação de novos produtos e no
ganho dos pequenos produtores rurais da região que passam a inserir
estes produtos em mercados que exigem qualidade segura”, reforça
Fernanda.
A
tese de doutorado Frutas
do bioma Amazônia: caracterização físico-química e efeito da
ingestão sobre os parâmetros fisiológicos em ratos foi
apresentado pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e
Ciência dos Alimentos do Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas da Unesp de São José do Rio Preto, em São Paulo.
Fernanda
escolheu estudar estes frutos porque eles são muito familiar à
população que vive na região do Amazonas, porém, fora desta
área, são pouco conhecidos. No seu estudo, ela analisou as
características físico-química, potencial benéfico e toxidade
das cinco frutas.
“Os
resultados deste estudo são muito promissores”, diz a orientadora
da pesquisa, Natália Soares Janzantti, do Departamento de
Engenharia e Tecnologia de Alimentos, da Unesp de Rio Preto. “A
partir dos resultados deste trabalho, novos projetos estão sendo
realizados por nosso grupo de pesquisa”.
De
acordo com ela, a região amazônica apresenta uma grande
diversidade frutífera, destas majoritariamente prevalece a escassez
de dados técnicos científicos principalmente de caracterização
química, potencial nutricional e de benefícios à saúde.
Benefícios
ou toxidades
“Com
exceção do biri-biri, todos os frutos apresentaram-se seguro para
consumo humano”, alerta Fernanda, que também é professora do
curso de nutrição da Faculdades Integradas de Cacoal (Unesc), em
Rondônia, onde também foram realizados testes no biotério da
instituição, com a colaboração da professora Bruna Kempfer
Bassoli.
Para
avaliar os benefícios e toxidades das cinco frutas, ela utilizou 60
ratos machos da linhagem Wistar albinos, adultos. Foram analisados
os hematócrito total, leucócitos totais, glicemia, triglicerídeos
e colesterol total, transaminase glutâmica oxalacética
citoplasmática (TGO) e transaminase glutâmica pirúvica
citoplasmática (TGP), uréia e creatina.
Os
resultados apontaram que o a ingestão do araçá-boi pode ser
utilizado para prevenção e tratamento de indivíduos com
colesterol alto, pois seu consumo reduziu colesterol total nos ratos
estudados.
O
araticum mostrou redução significativa de leucócitos e aumento
dos triacilgliceróis e uma tendência a reduzir a glicemia e
aumentar o hematócrito e colesterol. “Comer araticum pode ser
interessante para reverter quadros de anemia, porém sua ingestão
por indivíduos imunodeprimidos (como cancêr) deve ser cauteloso,
já que este fruto reduz a quantidade de leucócitos totais. O
consumo contínuo e excessivo, pode ocasionar um desbalanço no
metabolismo lipídico”, diz.
A
ingestão de araticum ou de abiu beneficia principalmente em
indivíduos com resposta imunes super ativas (alergias, inflamações
e outras doenças auto imunes). O mangostão amarelo não apresentou
alterações significativas nas análises: “O mangostão amarelo
não é tóxico, porém não apresentou benefícios consideráveis”,
ressalta a pesquisadora.
Um
dos destaques da pesquisa é o biri-biri, que se apresentou uma
fruta tóxica promovendo um aumento significativo de TGO,
ocasionando danos hepáticos e indícios de danos renais em ratos,
pela tendência ao aumento da uréia, não sendo seguro seu consumo
principalmente por nefropatas. “Se alimentar de forma contínua de
biri-biri pode causar danos renais e hepáticos. Seu consumo não é
seguro principalmente por indivíduos com problemas renais”,
explica.
Diagnóstico
nutricional das frutas
Um
outro ponto do estudo também analisado foi as características
físico-química das frutas. Fernanda usou a parte comestível, a
polpa do fruto, e realizou um levantamento da caracterização
nutricional: que são os componentes e a quantidade de compostos no
alimento como, sólidos solúveis, acidez total titulável, pH,
açúcares redutores, açúcares não redutores e totais, ácido
ascórbico, umidade, cinzas, lipídios, proteína, cor, atividade
antioxidante e compostos fenólicos.
Entre
os resultados, a polpa de araçá-boi foi caracterizada de coloração
amarelada e opaca, ácida, com alto teor de umidade e baixos teores
de açúcares, sólidos solúveis, cinzas e lipídios, com presença
de compostos fenólicos totais e atividade antioxidante.
A
de abiu grande apresenta cor amarelada e opaca, levemente ácida,
com alto teor de açúcares e sólidos solúveis e baixo teor de
lipídios, ácido ascórbico, proteína, compostos fenólicos totais
e de atividade antioxidante total.
O
araticum traz cor amarelada e opaca e ácida, com alto teor de
açúcares e umidade e, baixo teor lipídico, protéico, de ácido
ascórbico e maiores valores de compostos fenólicos totais e
atividade antioxidante total quando comparado as outras polpas. O
biri-biri com cor esverdeada e opaca, com baixo teor de acidez,
lipídios, proteína e açúcares. Apresentou baixo teor de
compostos fenólicos e atividade antioxidante.
A
polpa de mangostão amarelo oferece cor amarelada e opaca, com baixo
teor de acidez, teor de lipídios e proteína e, alto teor de
umidade. A polpa apresentou teores médios de compostos fenólicos
totais e atividade antioxidante.
O
próximo passo da pesquisa seria o teste em humanos, para comprovar
os benefícios do consumo destes frutos, porém, a linha de pesquisa
de Fernanda é específica para a caracterização nutricional e
experimentos com animais. “Já iniciamos testes com outros frutos
Amazônicos e esperamos encontrar também resultados importantes
como os demonstrados neste estudo”, finaliza.
Maristela
Garmes
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