Levantamento em 347 grupos verificou fotomontagens e mensagens
falsas
Marcello Casal JR / Agência Brasil |
Um levantamento realizado pelos professores Pablo Ortellado (USP),
Fabrício Benvenuto (UFMG) e pela agência de checagem de fatos Lupa em 347
grupos de WhatsApp encontrou entre as imagens mais compartilhadas apenas 8%
podendo ser classificadas como verdadeiras. O estudo buscou analisar o fenômeno
da desinformação e das mensagens falsas em grupos na plataforma, que vem sendo
apontada como principal espaço de disseminação desse tipo de conteúdo.
O estudo analisou conteúdos enviados entre os dias 16 de setembro de 7
de outubro, ou seja, em boa parte do 1º turno das eleições deste ano. A amostra
trouxe 347 grupos monitorados pelo projeto Eleição sem Fake, da UFMG. Os
resultados, portanto, não podem ser generalizados. Mas trazem indícios
importantes para a compreensão deste fenômeno. Ao todo, eles reuniram mais de
18 mil usuários. No período, circularam 846 mil mensagens, entre textos,
vídeos, imagens e links externos.
Das 50 imagens mais compartilhadas nos grupos checadas pela agência
Lupa, considerando foto e texto, apenas quatro foram consideradas verdadeiras
(8%), entre elas uma de Bolsonaro em uma maca e outra do autor da facada no
candidato, Adélio Bispo de Oliveira. Do total, oito (16%) eram falsas, como a
montagem de Dilma com Che Guevara.
Quatro (8%) foram consideradas insustentáveis, conceito da agência para
conteúdos que não se baseiam em nenhum banco de dados público confiável, como
fotos de Lula e FHC afirmando que os dois se reuniram para planejar assaltos a
banco. Outras nove eram fotos reais, mas com alusões a teorias da conspiração
sem comprovação.
Da amostra, sete fotos eram reais, mas tiradas de contexto, como um
registro de Aécio Neves e Fidel Castro acompanhado da acusação do político
tucano ter virado “aluno” do dirigente cubano. Três imagens foram consideradas
sátiras, seis estavam associadas a textos de opinião, o que a agência não
checa, e três não foram examinadas por não ser possível aferir se a foto havia
sido tirada no Brasil ou não. No total, 56% das imagens que mais circularam
foram consideradas “enganosas”.
Caso BNDES - O levantamento dos professores e da Agência Lupa detalhou o
caso das mensagens sobre supostos empréstimos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras fora do Brasil. De oito
sobre o tema acompanhadas de fotos, apenas duas eram verdadeiras. Outras três
traziam dados considerados “exagerados” e duas eram falsas, como a alegação de
que o banco teria financiado um gasoduto em Montevidéu e o soterramento de uma
ilha em Sarmiento, na Argentina.
Propostas - Os autores divulgaram propostas em artigos e em documento ao
WhatsApp solicitando a redução da possibilidade de encaminhamento de mensagens
para, no máximo, cinco destinatários. Hoje, este limite é de até 20 pessoas ou
grupos. Segundo o professor da USP Pablo Ortellado, o WhatsApp respondeu que
tal medida seria inviável.
“Nós discordamos. Na Índia, após uma série de linchamentos causados por
boatos difundidos no aplicativo, o WhatsApp conseguiu implementar mudanças em
poucos dias. Nossa situação é bastante grave. Estamos conclamando também o TSE
e outras instituições com poder regulatório para agir”, escreveu Ortellado, em
texto em sua rede oficial sobre o relatório.
Por: Agência Brasil
Fonte: Portal ORM
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