Eles são contra PEC que transfere para o
Congresso responsabilidade de demarcação de terras indígenas
BRASÍLIA - Por muito pouco, um grupo de índios não
invadiu o prédio da Câmara, no começo da tarde desta quarta-feira. Eles
conseguiram subir a rampa da entrada do Anexo I do prédio, quebraram uma
vidraça da porta de entrada, mas a polícia legislativa conseguiu conter o
movimento e impedir a invasão. Um índio e um vigilante se feriram
acidentalmente na confusão. Os índios protestam contra Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 215, que transfere para o Congresso a demarcação de suas
terras. Os seguranças estavam concentrados na entrada principal do Congresso, a
Chapelaria, e foram surpreendidos pelo grupo que tentou invadir por uma das
entradas dos fundos.
No final da tarde, próximo ao horário de pico do
trânsito, um grupo de índios fechou uma das pistas da Esplanada dos
Ministérios, em frente ao Palácio da Justiça. Eles colocaram cones na pista e
interromperam a passagem dos carros. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi
um dos que ficaram presos pelo fechamento da pista. Os índios atacaram o carro
ao perceberem que era de um parlamentar: eles esvaziaram um dos pneus,
enrolaram papel higiênico em torno do veículo, colocaram notas de dinheiro no limpador
de para-brisa e fizeram pichações nos vidros. O deputado, que estava no banco
do passageiro do veículo Tiggo preto, saiu do carro, reclamou, e decidiu ir
andando até o Ministério da Justiça.
Durante a confusão, apenas um carro de polícia
estava na área, e os policiais apenas observaram a interrupção do trânsito.
Um grupo de 31 lideranças indígenas participou de
uma reunião com o presidente em exercício da Câmara, deputado André Vargas
(PT-PR) e com alguns deputados, que ouviram as reivindicações e reclamações dos
indígenas. O principal assunto trazido pelos indígenas é a crítica à PEC 215.
O primeiro indígena a falar foi o cacique Raoni,
líder do povo Kaiapó. Em pé, apontando o dedo para os deputados e falando na
língua dele, Raoni pediu respeito às terras indígenas e que as propostas
contrárias aos indígenas sejam barradas no Congresso.
- Vocês políticos, deputados e senadores não estão
respeitando os povos indígenas. Vocês invadiram a nossa terra e querem acabar
com tudo. Quando a Constituição faz 25 anos, ao invés de ser respeitada está
sendo desrespeitada. Não vamos deixar isso acontecer – disse Raoni, segundo
intérprete.
Ontem, cerca de 1.200 indígenas, de várias etnias,
realizaram uma grande manifestação na Esplanada dos Ministérios. Eles estão acampados
desde a noite de segunda-feira na capital. Com bordunas, lanças, arco e flecha,
os indígenas, em especial os caiapós, conhecidos como povo guerreiro, cantavam
e dançavam durante o percurso do protesto: eles deixaram o acampamento, no
gramado da Esplanada, e passaram pelo Congresso Nacional, pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) e próximo ao Palácio do Planalto. Uma corrente de policiais
impediu o acesso dos índios até à frente do Palácio.
O grupo é contra a análise do Projeto de Emenda
Constitucional (PEC) 215. A instalação da comissão especial que analisaria a
PEC estava marcada para ontem mas foi suspensa. A bancada ruralista ocupa quase
todos os cargos dessa comissão.
Pelo Twitter da presidente Dilma Rousseff, a
Presidência da República afirmou, no final da noite de ontem, que o governo é
contra a PEC. “Meu governo é contra a PEC 215, que retira da União direito de
demarcar as terras indígenas. Orientei a base do governo a votar contra a PEC”,
afirmou.
Evandro Éboli
Fonte: O Globo
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