Brasil Novo Notícias: Brasil quer mais hidrelétricas e avalia se Belo Monte é modelo a ser adotado

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Brasil quer mais hidrelétricas e avalia se Belo Monte é modelo a ser adotado


Na reportagem desta quinta-feira (29) sobre Belo Monte, vamos saber quanto de energia a usina vai gerar
para o país. Atualmente as hidrelétricas produzem quase 70% da eletricidade no Brasil. Para 2024, a projeção do governo federal é que a contribuição das hidrelétricas diminua para 56%.

Já a energia eólica e a solar devem crescer para 14,9%. Juntas, podem ultrapassar o que é produzido pelas térmicas. Mesmo investindo em fontes de energia alternativa, o governo não abre mão de aproveitar o potencial hidrelétrico do Brasil.

Até 2024, o governo quer ter 22 novas hidrelétricas,12 na Amazônia. Uma delas é Belo Monte. A pergunta agora é se a experiência de Belo Monte serve de exemplo para as próximas hidrelétricas. A edição da série é de Luisa Sá e Francisco Policarpo.

O clube, na beira d'água, não vai mais reunir os turistas atraídos pelo Rio Xingu.

“Você sabe por que eu vim aqui hoje? Porque eu ouvi falar que hoje era o último dia”, diz uma frequentadora.

As ilhas no Rio vão desaparecer assim que Belo Monte começar a produzir energia de que o país tanto precisa.

Choveu tão pouco nos últimos dois anos que o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas chegou a uma situação crítica. As termelétricas foram ligadas e a conta de luz disparou. A situação só não foi pior porque o país enfrenta outra crise: a econômica.

Pelas contas de especialistas em energia, se o Brasil estivesse crescendo, o sistema elétrico precisaria de uma Belo Monte por ano.

Em uma das 18 turbinas da usina está sendo montado um dos rotores. Quando estiver pronto, ele vai girar quase 90 vezes por minuto bem perto das barras mostradas na reportagem e gerar um campo magnético. É o que vai produzir energia.

Usina vai gerar 4,5 megawatts, em média, a partir de 2019

Com o rio cheio - e todas as turbinas rodando - a produção de Belo Monte chega a 11 mil megawatts. Mas quando começa a estiagem, as turbinas vão sendo desligadas. Ao longo do ano, a usina deve gerar, em média, 4,5 mil megawatts. Isso só em 2019.Esta conta dá certo se o passado se repetir. Todos os cálculos foram feitos com base nas chuvas e na vazão do Rio Xingu nos últimos cem anos. Os técnicos esperam que tudo aconteça de novo do mesmo jeito. Só que, um século depois, o mundo está bem diferente.

Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais acreditam que as mudanças do clima no mundo podem influenciar o regime de chuvas na Amazônia.

“Os estudos vêm mostrando, que associada com a diminuição de chuva, teríamos uma diminuição das vazões médias anuais. Mostram entre 30% e 50% de diminuição”, explica o pesquisador Daniel Andres Rodriguez, do Inpe.

Para o presidente do consórcio que constrói Belo Monte, mesmo se chover menos, o Rio Xingu vai ter volume suficiente para gerar a quantidade de energia que foi projetada.

“Podem não ser 26 mil metros cúbicos, vamos supor que seja um ciclo menor, 14, se 13, mas os 14 mil metros cúbicos sempre vai ter, entendeu?”, pondera presidente da Norte Energia, Duilio Figueiredo.

Ambientalista teme pela Floresta Amazônica

O coordenador do Instituto Socioambiental, Marcelo Salazar, teme que o esforço para proteger a floresta possa se perder no futuro.

‘Belo Monte, do jeito que está sendo feito, pode ser um Cavalo de Troia. Fez a primeira usina, aí daqui a pouco você fala: ‘não está gerando quase nada de energia, vamos fazer mais uma barragem rio acima’, aí você cria um reservatório que potencializa estas turbinas”, diz o ambientalista.

Tanto o governo federal quanto o consórcio discordam.

“O plano de negócio é viavel, sem Cavalo de Troia, ele por si é viável durante os 35 anos de concessão”, pondera Duilio Figueiredo.

Bom Dia Brasil: Não há um plano de se fazer um lago posteriormente?
Luiz Eduardo Barata, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia: Não, não há mesmo, isso não existe, não é cogitado.

Obra foi objeto de 23 ações na Justiça

A discussão, hoje, é se Belo Monte é ou não um modelo a ser seguido por outras grandes usinas. O Ministério Público Federal entrou com 23 ações pedindo correções na obra e exigindo o cumprimento de medidas para evitar impacto para as pessoas e para o meio ambiente. Mas parte delas foi barrada na Justiça porque o governo alegou que o prejuízo em interromper a obra seria maior ainda para a economia.

“A interpretação do Ministério Público é de que existe um estado de exceção, a lei não se aplica. Então, a lei é suspensa para que os interesses do governo possam ser atingidos”, explica a procuradora da República Thais Santi.

O governo federal contesta.

“A posição do governo foi de sempre respeitar as decisões da Justiça, do Poder Judiciário, há uma orientação muito clara de que nos limitemos às decisões, mesmo quando você não concorda com elas”, diz Luiz Eduardo Barata. 

Ninguém discute que o país precisa de mais energia. E a região onde ainda se pode construir grandes hidrelétricas é a Amazônia.

“Dado que o potencial na Amazônia é tão grande, você tem possibilidade de fazer mais hidrelétricas e ser muito seletivo em quais delas fazer, para pegar aquelas que estão mais bem encaixadas em vales de rios, e com isso implicar em menos áreas alagadas e menos impactos ambientais”, diz o professor da Coppe/UFRJ Roberto Schaeffer.

Opção por hidrelétricas é criticada

Mas a opção de construir hidrelétricas na Amazônia é criticada pelo Instituto Socioambiental.

“Seria melhor fazer planejamento energético adequado para o país e hoje em dia investir em energias limpas”, pondera o ambientalista Marcelo Salazar.

O governo já planeja investir em energia eólica e solar. Mas o coordenador do Gesel/UFRJ, professor Nivalde J. de Castro, concorda que não dá para abrir mão das hidrelétricas.

“Diversificando a matriz, mas sempre priorizando as usinas hidrelétricas, porque elas são mais baratas, muito mais limpas, mais sustentáveis, porque duram 50, 60, 70, 80 anos, enquanto um parque eólico não dura 30, então, quando eu construo uma hidrelétrica, eu sei que ela vai gerar energia para milhões de pessoas, como é o caso de Belo Monte, durante décadas, talvez século”, diz.

Fonte: O Xingu

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