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Okamotto admitiu ter recebido "várias pessoas" de empresas investigadas na Lava Jato. O jornal O Estado de S. Paulo ouviu relatos de interlocutores segundo os quais, em alguns momentos, empresários chegaram a dar um tom de ameaça às conversas. No fim do ano passado, João Santana, diretor da Constran, empresa do grupo UTC, agendou um encontro com Lula - o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, foi preso pela Lava Jato e é apontado como coordenador do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras.
Santana foi recebido por Okamotto. A conversa foi tensa. A empreiteira buscava orientação do ex-presidente. Em 2014, a UTC doou R$ 21,7 milhões para campanhas do PT - R$ 7,5 milhões em apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Indagado sobre o encontro com o diretor, Okamotto admitiu o pedido de socorro de Santana. "Ele queria conversar, explicar as dificuldades que as empresas estavam enfrentando. Disse: ?Você tem de procurar alguém do governo?", contou o presidente do Instituto Lula.
"Ele estava sentindo que as portas estavam fechadas, que tudo estava parado no governo, nos bancos. Eu disse a ele que acho que ninguém tem interesse em prejudicar as empresas. Ele está com uma preocupação de que não tinha caixa, que tinha problema de parar as obras, que iria perder, que estava sendo pressionado pelos sócios, coisa desse tipo", disse Okamotto.
A assessoria de imprensa da Constran nega o encontro
A força-tarefa da operação prendeu uma série de executivos de empreiteiras em 14 de novembro, na sétima fase da Lava Jato. Um deles era o presidente da OAS, Léo Pinheiro. Antes de ser preso, ele se encontrou com Lula para pedir ajuda em função das primeiras notícias sobre o conteúdo da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa que implicavam sua empresa. Lula e Pinheiro são amigos desde a época de sindicalista do ex-presidente petista, que negou ter mantido conversas sobre a Operação Lava Jato com interlocutores das empresas.
Estratégias comuns
A cúpula das empreiteiras também tem feito reuniões entre si para avaliar os efeitos da Lava Jato. Após a prisão dos executivos, o fundador da OAS, César Mata Pires, procurou Marcelo Odebrecht, dono da empresa que leva seu sobrenome, para saber como eles haviam se livrado da prisão até agora. Embora alvo de mandados de busca e de um inquérito da Polícia Federal, a Odebrecht não teve nenhum executivo detido na Lava Jato.
Conforme relatos de quatro pessoas, Pires disse que as duas empresas têm negócios em comum e que a OAS não assumiria sozinha as consequências da investigação. Ele afirmou ao dono da Odebrecht não estar preocupado em salvar a própria pele, porque já havia vivido bastante. Mas não iria deixar que seus herdeiros ficassem com uma empresa destruída por erros cometidos em equipe.
A assessoria de imprensa da Odebrecht disse que houve vários encontros entre as duas empresas, mas que nenhum "teve como pauta as investigações sobre a Petrobras em si". O departamento de comunicação da OAS nega a reunião com a Odebrecht.
Em consequência da Operação Lava Jato, as empreiteiras acusadas de fazer parte do "clube" que fraudava licitações e corrompia agentes públicos no esquema de corrupção e desvios na Petrobras estão impedidas de participar de novos contratos com a estatal.
Com isso, algumas enfrentam problemas financeiros, o que tem tirado o sono dos donos dessas empresas. No dia 27 de janeiro, Dilma fez um pronunciamento no qual disse que "é preciso punir as pessoas", e não "destruir empresas".
Críticas
A tentativa de empreiteiras envolvidas na Lava Jato de pedir ajuda a agentes políticos já foi condenada pelo juiz Sérgio Moro - responsável pela operação - ao se referir aos encontros de advogados das empresas com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
"Trata-se de uma indevida, embora malsucedida tentativa dos acusados e das empreiteiras de obter interferência política em seu favor no processo judicial (...) certamente com o recorrente discurso de que as empreiteiras e os acusados são muito importantes e bem relacionados para serem processados", criticou o juiz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Presidente do Instituto Lula diz que foi procurado por 'várias' empresas
Sócio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa consultoria e presidente do instituto que leva o nome do petista, Paulo Okamotto confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que recebeu "vários" interlocutores de empreiteiras. Questionado sobre se teria recebido o executivo João Santana, da UTC, para tratar da Operação Lava Jato, Okamoto confirmou: "Eu o recebi. Ele queria explicar as dificuldades que as empresas estavam enfrentando, se alguém estava pensando o que fazer. Eu disse: 'Você tem que procurar alguém do governo'."
A reportagem quis saber sobre que tipo de ajuda ele queria. Okamoto diz que toda empresa que fica exposta a acusações tem dificuldades de ser atendida. "Ele estava sentindo que as portas estavam fechadas no governo, nos bancos". Okamoto não tem cargo no governo e diz ter sido procurado porque "as pessoas acham que a gente tem informação", fala.
O senhor recebeu a OAS?, quer saber a reportagem. "Esse negócio das empreiteiras está todo mundo procurando para ver como é que faz. Fica chato eu ficar dizendo todas as empresas que me procuraram", desconversa.
A Odebrecht procurou o Lula?, insiste a reportagem. "Eu não participei dessa conversa da Odebrecht com o presidente Lula. Ninguém pode ignorar que um caso como esse não tenha sido comentado. Infelizmente, todo mundo só fala nisso.", afirma.
Questionado sobre se o assunto não seria relevante, Okamoto diz que muita coisa que está aparecendo não tem muito a ver com a política, embora se queira dar esse caráter. "No caso da Lava Jato, tem a ver com as mazelas do País. Para vencer as dificuldades que a gente tem muitas vezes nas empresas, como questões burocráticas, as pessoas usam de expedientes mais condenáveis."
Mas o PT recebeu dinheiro do esquema, retruca a reportagem... "Tanto o (Renato) Duque, quanto o (Paulo Roberto) Costa eram de carreira da Petrobras, indicação técnica, pela meritocracia. O Pedro Barusco era gerente. As pessoas não foram galgadas ao posto com o compromisso de roubar. Até poderiam oferecer pra eles cargo nessas condições, mas eles poderiam dizer: ?Nessas condições eu não topo. Eu tenho 30 anos de Petrobras, não vou roubar para virar diretor?.", responde Okamoto.
Vaccari
Em relação à acusação de que João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, teria pedido propina para o partido, Okamoto diz que as empresas estão ganhando dinheiro. Que ninguém precisa corromper ninguém. "Funciona assim: 'Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.' É o que espero que ele tenha feito."
Ele diz que foi uma surpresa saber que essas empresas davam um tanto de dinheiro pra tantos caras. Por que tem que dar esse tanto de dinheiro? Não tem outro esquema, não tem outra estrutura?, diz ao ser lembrado pelo jornal O Estado de S. Paulo de que o desvio na Petrobras chegou a bilhões.
Sobre se o Brasil muda com a Lava Jato, Okamoto diz que quando a pessoa critica duramente a corrupção, a obriga a ser mais ética. "No Brasil, infelizmente, é assim. Todo mundo corrompe um pouquinho. Nego atravessa pelo acostamento; nego fala ao telefone celular; dá um dinheirinho ali para o guarda. A gente tem uma cultura de comprar facilidade, que é ruim. Se não, que País vamos deixar para os nossos netos?"
Mas quando perguntado sobre se o presidente Lula estaria muito preocupado com a Lava Jato, Okamoto dá a entrevista por encerrada: "Eu falei que iria responder a uma pergunta, já respondi 20. Chega. Passar bem." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Construtoras e ex-presidente Lula negam terem se reunido
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que tenha se encontrado com executivos das empreiteiras OAS, Odebrecht e UTC/Constran para tratar da Operação Lava Jato. "Muitas pessoas, de diversos setores, procuram o ex-presidente Lula, que hoje não possui nenhum cargo público", disse a assessoria do instituto, ao negar que o petista tenha recebido empreiteiros ou que eles pediram as reuniões.
A assessoria da UTC/Constran negou o encontro relatado em entrevista por Paulo Okamotto. "Nenhum executivo da empresa jamais marcou reunião ou manteve encontro com o presidente Lula ou com o senhor Paulo Okamotto para tratar de assuntos relativos à Operação Lava Jato."
Procurada para confirmar o encontro entre os executivos Marcelo Odebrecht e César Mata Pires, dono da OAS, a Odebrecht afirmou que "os acionistas e executivos da Odebrecht e da OAS tiveram não apenas um, mas vários encontros antes e depois das diversas etapas das investigações sobre a Petrobras. O que é absolutamente normal, já que as duas empresas fazem parte de consórcios em comum, inclusive como investidoras, como é o caso da construção do Estaleiro Enseada e da Arena Fonte Nova, ambos na Bahia". A empresa disse que nesses encontros "foram discutidos temas operacionais e societários", mas negou que as reuniões "tiveram como pauta as investigações sobre a Petrobras em si, embora consequências das mesmas sobre a operação de empreendimentos em comum tenham sido abordadas".
A assessoria da construtora OAS "refuta veementemente" que tenham ocorrido encontros de seus executivos com funcionários da Odebrecht para tratar da investigação.
Fonte: Isto É
Fonte: Isto É
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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