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terça-feira, 31 de julho de 2018

SEGUNDO ESTUDO PARAENSE, HANSENÍASE PODE SER TRANSMITIDA POR CONTATO COM TATUS

Aproximadamente 60% dos tatus que vivem nas florestas do oeste do Pará estão contaminados com Mycobacterium leprae.
Reprodução
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), e estrangeiros (USA e Suíça) descobriram que aproximadamente 60% dos tatus que vivem nas florestas do oeste do Pará estão contaminados com Mycobacterium leprae, a bactéria causadora da hanseníase. E ainda: a manipulação do animal pode ser uma forma de contrair a doença.
De acordo com Moises Silva, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e que desde 2009 estuda o tema, vários municípios no interior do estado do Pará foram visitados, incluindo Belterra, que assim como em outros municípios, foram diagnosticados casos da doença. Mostramos que o estado do Pará apresenta uma endemia oculta da doença, com muitos casos ainda por serem diagnosticados.
“Através do programa CAPES PROAMAZONIA, uma aluna de mestrado em biociências da UFOPA, Juliana Portela, levantou o problema em uma de nossas reuniões. Após a obtenção das autorizações, pudemos coletar fragmentos do fígado e do baço dos animais, caçados para o consumo das comunidades, para saber se a bactéria estava presente nessas regiões ou não, e depois de muita discussão e muita pesquisa, o resultado apareceu”, comenta o pesquisador Moises Silva.

O que é hanseníase e de onde ela veio? 

O professor explica que: “A hanseníase é uma doença infecciosa de contaminação respiratória”. É causada por uma bactéria que veio, inicialmente, da África e chegou à Europa, 700 anos a.C. (antes de Cristo).  “No senso comum da população é que a hanseníase é bíblica, mas a doença mencionada no livro pode estar relacionada a outras doenças. Ela é conhecida também como lepra e chegou às Américas através das navegações. Em algum momento desse período, os humanos infectaram os tatus que começaram a disseminar a bactéria em seu habitat natural”
Segundo a pesquisa, 62% dos tatus galinha (Dasypusnovemcinctus) estavam naturalmente infectados pelo bacilo causador da hanseníase. Mesmo diante a estes dados, o professor enfatiza que o ser humano continua sendo o principal transmissor da doença e que a infecção através do animal não é a principal forma de contaminação. 
“Consumir carne de caça é um costume entre as comunidades tradicionais. Quem mora nessas comunidades consumirá essa carne por falta de outra fonte de proteína. O risco de se contaminar com a bactéria aumenta quando se manipula/come o tatu mais de uma vez no mês”, esclarece Moises Silva.
A doença se manifesta lentamente. Há casos de exposição de dois à dez anos até o indivíduo desenvolver os primeiros sinais. O principal sintoma clínico da hanseníase são manchas mais claras que o tom da pele do indivíduo e que possuem alteração de sensibilidade. O paciente sente como se a pele estivesse dormente. Alguns não sentem o toque, dores e até mesmo alterações de temperatura na pele. 
“Se a pessoa que está infectada e não for tratada espirra ou tosse, libera uma carga da bactéria no ambiente, principalmente os familiares ficam expostos e acabam por inalar o bacilo causador da hanseníase e, se forem sensíveis, irão desenvolver a doença”, informa o pesquisador. 
Moises Silva reforça que os tatus não são os principais transmissores da hanseníase, mas há uma chance maior de ficar doente com o consumo de sua carne. A ausência de diagnóstico da doença não significa ausência da doença. Muitos pacientes não têm acesso ao sistema de saúde e simplesmente não são diagnosticados e, mesmo quando tem acesso, não são diagnosticados imediatamente. Falta treinamento para diagnosticar e tratar a hanseníase, especialmente nas suas formas mais iniciais.
Para Moises Silva, a pesquisa com os tatus reitera o quão pouco se sabe sobre a hanseníase, especificamente sobre diferentes formas de infecção. "Existem outras formas de transmissão além do tatu, possivelmente animais e espécies que ainda não foram avaliadas e que podem levar ao desenvolvimento de novos casos. Até mesmo as amebas podem albergar a bactéria da hanseníase, que permanece viva dentro delas por meses. As condições de saneamento e habitação das populações mais atingidas também é importante, e precisa melhorar muito na Amazônia. O que se deve fazer é focar no tratamento eficaz e correto da doença. Se há suspeitas ou sinais da hanseníase, é preciso procurar um profissional da área da saúde, para que o tratamento comece imediatamente”, finaliza.
Fonte: Portal ORM com Informações da UFPA

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