Escrito por Valéria Furlan
Durou cerca de três horas o novo
depoimento de Mônica Pinto ao promotor de Justiça Nelson Medrado, que
investiga desde o ano passado as fraudes milionárias ocorridas no
Legislativo paraense. A ex-chefe de Pessoal da Alepa, que possui acordo
de delação premiada com o Ministério Público do Estado, compareceu ontem
(07-08) à tarde ao gabinete do promotor, acompanhada de seu advogado.
Ela reiterou informações sobre o esquema de corrupção que ficou
conhecido como "caso Alepa", revelou alguns fatos novos e indicou a
Medrado nomes de funcionários do dito "segundo escalão" que se
beneficiavam das fraudes. Segundo o promotor, o depoimento de Mônica
trouxe fatos importantes para a investigação, e ela ainda deverá ser
ouvida mais vezes nas próximas semanas.
Em seu depoimento, Mônica detalhou, mais
uma vez, como funcionavam as fraudes na folha de pagamento na Alepa.
Ela reiterou que, na gestão do ex-deputado Domingos Juvenil (PMDB),
todos as orientações para contratação de pessoal partiam da chefia de
gabinete do presidente, que mandava bilhetes determinando as lotações
dos servidores que seriam incluídos na folha. Ela mencionou o nome da
servidora Paulina Nascimento, que exerceu a chefia do departamento de
pessoal, como sendo a pessoa que preparava os atos para efetivação das
ordens. Mônica Pinto também relembrou que, no mandato de Juvenil, haviam
pessoas que detinham poderes para determinar os atos administrativos,
entre elas, Semmel Charone, Maria Genuína Carvalho e Sérgio Duboc, que
já estão sendo processados pelo MPE no caso.
Segundo o promotor Nelson Medrado, outro
ponto destacado por Mônica no depoimento diz respeito à sua saída do
Departamento de Gestão de Pessoas. Ela afirma que, quando o Ministério
Público começou a detectar as fraudes e solicitou à Assembleia a relação
de funcionários da Casa, ainda em 2009, o presidente Juvenil determinou
que fosse enviada apenas a lista dos funcionários que efetivamente
existiam na estrutura da Alepa. Ela, no entanto, teria se recusado a
assinar a listagem e por isso teria sido afastada do departamento.
Assumiu a diretoria, então, Marcos Almeida, que segundo ela, é sobrinho
de Domingos Juvenil. Ele assinou o documento e, segundo Mônica, "sabia
que estava prestando uma informação falsa". Segundo ela, o número real
de servidores foi omitido na lista encaminhada ao MP no ano de 2010,
informação que, segundo o promotor Nelson Medrado, bate com o que o MPE
verificou.
Mônica voltou a frisar, no depoimento,
que os pagamentos ilegais na folha eram de conhecimento de vários
servidores da Assembleia, inclusive de deputados. Segundo o promotor,
ela mencionou novamente alguns nomes de deputados e ex-deputados que
teriam se beneficiado das fraudes. Mônica afirmou ainda que, na época em
que as fraudes ocorriam, havia uma grande preocupação dos envolvidos em
não levantar suspeitas. Segundo o promotor Nelson Medrado, o novo
depoimento da ex-chefe de Pessoal da Alepa ainda será agendado. "Vamos
primeiro trabalhar as informações que ela levantou nos últimos
depoimentos, para depois ouvi-la novamente", observou.
"É justo que cada um responda pelo que fez"
Os recentes depoimentos de Mônica Pinto
fazem parte de uma nova etapa da apuração do MP sobre o caso Alepa, que
deverá aprofundar as investigações sobre a responsabilidade e
beneficiamento dos servidores do chamado "segundo escalão" no esquema
fraudulento. Novamente, Mônica Pinto está sendo chamada para colaborar
prestando informações - ela depôs por cerca de seis horas na última
quinta-feira (2). Ontem, ao chegar para o depoimento, Mônica conversou
brevemente com a reportagem de O LIBERAL e disse que está disposta a
continuar fornecendo informações que possam subsidiar as investigações
do MP. "Cada pessoa teve sua responsabilidade nas irregularidades que
ocorreram. É justo que cada um responda pelo que fez, até para que as
pessoas saibam, realmente, quem é quem. Muitos funcionários foram
beneficiados, e outros se omitiram", acredita.
Mônica afirma que, nos depoimentos
prestados ao MPE desde a semana passada, ela tem esclarecido alguns
pontos que ainda não estavam bem definidos. "Esse é um momento em que a
gente vem esclarecer melhor alguns pontos que não ficaram bem definidos,
mostrar algumas situações que ocorriam lá dentro", diz ela, que também é
ré nos processos do caso por ter colaborado e se beneficiado das
fraudes.
Para ela, todos os envolvidos devem ser
responsabilizados. "Até hoje, existe um corporativismo tão grande lá
dentro que as pessoas não querem colaborar. Mas eu estou disposta a
isso", emendou.
O esquema de corrupção na Alepa resultou
em um rombo aos cofres públicos em mais de R$ 100 milhões e, ao todo,
68 pessoas estão sendo processadas por conta das fraudes. A investigação
do esquema criminoso é comandada pelos promotores de Justiça Arnaldo
Azevedo e Nelson Medrado desde abril do ano passado, quando o escândalo
estourou. Dezoito ações já foram oferecidas à Justiça desde então.
Fonte: O liberal
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