Fase
odiada pela maioria das pessoas ganhou uma sobrevida de cinco anos.
O
fato de jovens estarem optando por estudar por um período de tempo
mais longo, não só até a faculdade, assim como a decisão cada vez
mais frequente de adiar casamento e maternidade/paternidade, estariam
mudando a percepção das pessoas de quando a vida adulta começa,
dizem pesquisadores australianos em um artigo publicado nesta semana
na revista científica Lancet Child & Adolescent Health.
Para
eles, a redefinição da duração da adolescência seria essencial
para assegurar que as leis que dizem respeito a esses jovens
continuassem sendo asseguradas.
Outros
especialistas, no entanto, dizem que postergar o fim da adolescência
pode mais adiante infantilizar os jovens.
Puberdade
A
duração da adolescência já chegou a ser alterada antes, quando se
concluiu que, com os avanços da saúde e da nutrição, a puberdade
iniciava antes do 14 anos, como se convencionava.
Essa
fase tem início quando uma parte do cérebro, o hipotálamo, ativa
as glândulas hipófise e gônadas, que, entre outras coisas, liberam
hormônios sexuais.
Ela
costumava acontecer por volta dos 14 anos, mas caiu gradualmente no
mundo desenvolvido nas últimas décadas até o patamar de 10 anos.
Como
consequência, em países industrializados como o Reino Unido a idade
média para a primeira menstruação de uma garota caiu quatro anos
nos últimos 150 anos.
Metade
das mulheres agora fica menstruada pela primeira vez entre 12 e 13
anos.
A
biologia também é usada como argumento por aqueles que defendem que
a adolescência termina mais tarde - e que dizem, por exemplo, que o
corpo continua a se desenvolver.
O
cérebro continua se desenvolvendo depois dos 20 anos, trabalhando de
maneira mais rápida e eficiente. E para muitos os dentes do siso não
nascem até que complete 25 anos.
Adiando
planos familiares
Os
mais jovens também estão adiando o casamento e a
maternidade/paternidade.
De
acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unidos, a
idade média para o primeiro casamento de um homem era 32,5 anos em
2013 e de 30,6 para as mulheres na Inglaterra e no País de Gales.
Isso significa um aumento de 8 anos desde 1973.
No
artigo que explica os motivos para o aumento da duração da
adolescência, Susan Sawyer, diretora do Centro para a Saúde do
Adolescente do Hospital Royal Children's em Melbourne, na Austrália,
escreve: "Apesar de muitos privilégios legais da vida adulta
começarem aos 18 anos, a adoção das responsabilidades e do papel
de adulto geralmente acontece mais tarde".
Ela
diz que postergar o casamento, o momento de ter filhos e a
independência financeira significa "semidependência", o
que caracteriza que a adolescência foi estendida.
No
Brasil, a permanência por cada vez mais tempo dos jovens na casa dos
pais é uma marca da chamada "geração canguru", nome dado
pelo IBGE em 2013 ao fenômeno que engloba pessoas de 25 a 34 anos e
que vem crescendo no país. Os dados foram divulgados na Síntese de
Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da
população brasileira, com dados referetes ao intervalo entre 2002 e
2012.
Mudança
nas leis
Essa
mudança, pondera Sawyer, precisa ser levada em consideração pelos
políticos, para que as leis e benefícios voltados a esse público
sejam alterados.
"Definições
de idade são sempre arbitrárias, mas nossa atual definição de
adolescência está excessivamente restrita", diz a cientista.
Russell
Viner, presidente da associação Royal College de pediatria e saúde
infantil, diz que no Reino Unido a idade média para um jovem sair de
casa é 25 anos. Ele apoia a ideia de que a adolescência seja
estendida até os 24 anos e diz que os serviços no Reino Unido já
levam isso em conta.
Segundo
ele, hoje as leis no Reino Unido consideram a idade de até 24 anos
para o governo garantir a provisão de serviços para crianças e
adolescentes que precisam de atendimento especial (seja por abandono
ou outro motivo) e que têm necessidades especiais em termos
educacionais.
Infantilizar
os adultos
A
socióloga da Universidade de Kent Jan Macvarish, que estuda
paternidade, diz que há um perigo em estender o conceito de
adolescência.
"Crianças
mais velhas e jovens são moldados de maneira mais significativa
pelas expectativas da sociedade sobre eles com o seu intrínseco
crescimento biológico", ela diz.
"Não
há nada necessariamente infantil em passar o início dos seus 20
anos no ensino superior ou tendo experiências no mundo do trabalho."
E não deveríamos arriscar transformar o desejo deles por
independência em uma patologia. "A sociedade deveria manter as
expectativas mais altas em relação à geração seguinte", diz
Macvarish.
Viner
discorda dela e diz que ampliar a adolescência pode ser visto como
dar poder aos jovens ao reconhecer as diferenças deles.
"Contanto
que isso seja feito de uma posição de reconhecimento dos pontos
fortes dos jovens e do potencial do desenvolvimento deles em vez de
focar os problemas da adolescência."
Fonte:
G1
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