Foto: Antonio Cruz |
Julho
é o mês das férias escolares e, com elas, vêm a preocupação de
muitos pais sobre como os filhos aproveitam o tempo livre. O acesso à
internet e às redes sociais é uma das formas de passar o tempo, mas
deve ser feito com cuidado para não prejudicar as crianças e
adolescentes.
Especialistas
concordam que o acesso à rede mundial é um caminho sem volta, e a
proibição do uso não é a melhor opção para os pais. O
presidente da organização não governamental Safernet, Thiago
Tavares, diz que a melhor estratégia continua sendo o diálogo, a
conversa franca e a relação de confiança que deve existir entre
pais e filhos.
“Da
mesma forma que você conversa com seus filhos sobre os riscos que
existem ao sair na rua, na escola, no cinema, você diz para ele não
aceitar bala de estranhos, você também deve orientá-lo em relação
ao uso seguro da internet”, diz. Ele recomenda também o uso de
versões customizadas de sites e
aplicativos, que selecionam o conteúdo apropriado para crianças.
O
especialista não recomenda o monitoramento dos filhos com o uso
de softwares
espiões. Segundo ele, esses programas passam uma falsa sensação de
segurança e podem comprometer a relação de confiança entre pais e
filhos. “Proibir o uso da internet não adianta. E monitorar o que
seu filho faz por meio de softwares espiões
também não ajuda, porque quebra uma relação de confiança e é
ineficiente, porque as crianças não acessam a internet de um único
dispositivo”, justifica.
Espaço
público
A
mestre em psicologia clínica Laís Fontenelle orienta aos pais
acompanhar os acessos virtuais dos filhos da mesma forma como é
feito no mundo real. “O mesmo cuidado que tem de ter na internet é
o cuidado que tem de ter em um espaço público. Os pais têm de
monitorar da mesma forma que monitora a casa do amigo que o filho
vai, a praça que vai frequentar, a festa, porque é como se fosse um
espaço público, só que virtual”, explica.
No
caso de crianças não alfabetizadas, o acesso à internet precisa
sempre ser feito com a supervisão de um adulto, diz a psicóloga. “A
mediação é imprescindível principalmente para crianças que não
estão alfabetizadas. Elas vão com o dedinho no touchscreen [tela
do celular ou tablet] e podem cair em um conteúdo que não é
adequado para elas, e não têm a maturidade para lidar com o
conteúdo que está ali”, adverte.
A
psicóloga também “puxa a orelha” dos pais, alertando para a
responsabilidade do exemplo dado às crianças. “Não adianta a
gente fazer um overposting dos
nossos filhos nas redes sociais, expondo tudo que acontece na vida
deles: ‘ganhou um peniquinho, comeu a primeira papinha’ e dizer
para eles não fazerem isso. Se a gente não sabe lidar com esses
limites claros sobre o que pode ser publicizado sobre a intimidade
das nossas vidas, eles nunca vão saber”, diz Laís.
Os
principais riscos do uso da internet por crianças e adolescentes são
os acessos a conteúdos inapropriados para a idade, como pornografia,
a exposição da privacidade em redes sociais, o cyberbulling e
a exposição da intimidade, principalmente na adolescência. “Os
casos de vazamento de nudes [fotos
de nudez] não param de crescer ano a ano”, diz o presidente da
Safernet. Além disso, há o perigo do contato com estranhos, que
pode resultar em tentativas de assédio, aliciamentos ou golpes.
Uma
pesquisa divulgada no ano passado pelo Comitê Gestor da Internet no
Brasil mostrou que 87% crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos têm
perfil em redes sociais, e 66% acessam a internet mais de uma vez por
dia. Segundo o estudo TIC
Kids Online Brasil,
11% dos entrevistados acessaram a internet antes dos 6 anos de idade.
Trem-bala
A
jornalista Melissa Gass levou um susto quando viu que o canal no
Youtube da filha Lívia, de 7 anos, tinha mais de 15 mil
visualizações. O sucesso veio quando a menina postou um vídeo
dançando o hit Trem-Bala,
da cantora Ana Vilela. “Como ela não posta muita coisa, eu não
esperava, mas por causa desse vídeo acabou tendo uma repercussão
maior. É muita exposição, a gente fica meio preocupado”, conta a
mãe.
Em
seu canal, Lívia mostra brincadeiras, músicas, livros e até
receitas culinárias. “Eu gosto de ser famosa”, diz a menina, que
também participa de aulas de canto, dança e vai começar a fazer
teatro.
Para
Melissa, não tem como proibir o acesso das crianças à internet,
mas é preciso monitorar as atividades dos pequenos na rede. “A
tecnologia é uma realidade. Com um ano de idade, ela mexia no
celular, então não tem como fugir. Quando a gente proíbe, é pior,
porque vai fazer escondido. Então a gente monitora, acompanha,
incentiva o que pode incentivar”, explica.
Entre
as orientações que os pais dão para Lívia, estão não seguir
canais de adultos e não comentar nem trocar mensagem privada com
desconhecidos. “A gente fala que têm adultos que querem fazer
maldades para as crianças, então que ela tem de tomar cuidado, a
gente dá essa orientação”, diz Melissa. A mãe também monitora
as redes sociais da filha e, quando vê algo suspeito, desabilita o
contato.
Fonte:
Agência Brasil
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